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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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quotidiana. To<strong>do</strong>s referem a ausência de adultos que lhes houvessem transmiti<strong>do</strong><br />

segurança e pudessem ser modelos consistentes para aprender a viver em socie<strong>da</strong>de.<br />

Não encontraram na escola uma única figura significativa que estivesse disposta a<br />

construir uma relação implica<strong>da</strong> na superação <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des trazi<strong>da</strong>s de casa. As<br />

expectativas negativas que os <strong>do</strong>centes constroem a seu respeito, designa<strong>da</strong>mente<br />

sobre as suas capaci<strong>da</strong>des e interesses, remetem-nos para uma profun<strong>da</strong> solidão no<br />

espaço escolar, solidão esta que só pode ser supera<strong>da</strong> por via <strong>da</strong> integração num<br />

grupo de pares atingi<strong>do</strong> pela mesma descrença <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res. Se existisse uma<br />

efectiva compreensão <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s histórias destes meninos socializa<strong>do</strong>s em<br />

subculturas fragiliza<strong>da</strong>s, o recurso a práticas cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente pensa<strong>da</strong>s,<br />

implementa<strong>da</strong>s e avalia<strong>da</strong>s, seria uma reali<strong>da</strong>de nas escolas. Muito longe disso, o que<br />

nos dizem as histórias destes meninos e meninas é que o processo <strong>da</strong> sua rotulação<br />

continua a ser uma reali<strong>da</strong>de recorrente que esconde, a não menos recorrente,<br />

indiferença a respeito <strong>do</strong> seu futuro.<br />

207<br />

Para os numerosos jovens que aban<strong>do</strong>naram a escola sem ―trunfos‖, que<br />

vivem em famílias sem pai, que não dispõem de qualquer perspectiva de emprego, ou<br />

que, então, não estão dispostos a assumir os únicos empregos que lhes são<br />

acessíveis, a delinquência e/ou o consumo de drogas é a forma de socialização<br />

possível 206 .<br />

Nas socie<strong>da</strong>des onde o perío<strong>do</strong> de transição para a vi<strong>da</strong> adulta se pode<br />

considerar muito longo, precisamente em função de uma escolarização obrigatória<br />

ca<strong>da</strong> vez mais longa e ca<strong>da</strong> vez menos garantia de inserção económica, a definição<br />

<strong>do</strong> lugar social de ca<strong>da</strong> um toma contornos particularmente problemáticos, muito em<br />

especial para alguns segmentos <strong>da</strong> população juvenil.<br />

Sen<strong>do</strong> já de si um perío<strong>do</strong> em que o acesso à identi<strong>da</strong>de é dificulta<strong>do</strong><br />

pela relativa indefinição <strong>do</strong> estatuto, a transição para a vi<strong>da</strong> adulta pode em muitos<br />

casos ficar seriamente comprometi<strong>da</strong>. Se os que têm a possibili<strong>da</strong>de de continuar os<br />

seus estu<strong>do</strong>s podem reivindicar um ‖estatuto de estu<strong>da</strong>nte‖, já os que se confrontam<br />

com um merca<strong>do</strong> de trabalho que não os quer são impedi<strong>do</strong>s de ter acesso a um<br />

estatuto. São remeti<strong>do</strong>s para uma situação de anomia que os precipita numa<br />

subcultura delinquente tanto mais tirânica quanto a autori<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s adultos se<br />

evaporou completamente <strong>da</strong>s suas vi<strong>da</strong>s.<br />

Desde o tempo <strong>da</strong> Escola de Chicago, Park e Burgess consideravam que<br />

os bairros degra<strong>da</strong><strong>do</strong>s nos centros <strong>da</strong>s grandes ci<strong>da</strong>des constituíam o primeiro círculo<br />

<strong>da</strong> integração espacial e social <strong>do</strong>s recém-chega<strong>do</strong>s – migrantes rurais e imigrantes<br />

206 Antoine Garapon, Le Gardien des promesses, Paris, Odile Jacob, 1996, pág.121, cita<strong>do</strong> por Jean Paul<br />

Fitoussi, Pierre Rosanvallon, A nova era <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, op. cit., pág. 29

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