17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Rui<br />

Na clínica, no princípio gostava…. agora já não estou a gostar, mas já<br />

estou a contrariar. Estou a gostar mais porque já arranjei um amigo e já<br />

estou a contrariar-me para ficar aqui… estou aqui pelo Tribunal, porque<br />

fiz porcaria lá fora… fiz asneiras, aquilo que não devia fazer, como, por<br />

exemplo, roubava dinheiro à minha avó… ia comer aquilo que queria,<br />

fumava droga, comprava tabaco e dizia que era para o meu tio, roubava<br />

gajos e mais na<strong>da</strong>! …<br />

Não sei se estar aqui me faz bem… não sei se isto faz bem… preferia<br />

estar em casa… estou com sau<strong>da</strong>des <strong>da</strong> minha família! Ain<strong>da</strong> não fui a<br />

casa e não sei porquê… perguntei uma vez mas disseram-me que ain<strong>da</strong><br />

não an<strong>da</strong>va numa boa ―track‖… não gosto de confrontar, nem de<br />

―dealar‖… não tenho que falar de mim… não tenho que contar o que me<br />

custa viver e os meus sentimentos... não sei se isso serve para alguma<br />

coisa. Não gosto disto. Devia ser um colégio normal… não é preciso<br />

na<strong>da</strong> disto para deixar de consumir. Os outros? Não deixam se não<br />

quiserem… eu, se quiser, deixo… não preciso disto… não gosto de estar<br />

aqui… são sempre as mesmas coisas… regras e mais regras…<br />

direcções… tarefas.<br />

Desde que estou aqui, ninguém veio visitar-me … eu acho que o meu pai<br />

vem cá no meu dia de anos, em Agosto… falei ao telefone com a minha<br />

avó ela diz para eu ficar aqui, para aturar isto…<br />

Quan<strong>do</strong> penso na minha família, penso que tinha carinho de muitos… <strong>da</strong><br />

minha mãe, <strong>do</strong> meu pai, <strong>da</strong> minha avó, <strong>do</strong> meu tio, <strong>da</strong> namora<strong>da</strong> <strong>do</strong> meu<br />

tio, <strong>da</strong>s minhas tias, <strong>do</strong>s meus primos… não sei o que quero… fico<br />

assim… ora quero, ora não quero… não sei para que serve isto…<br />

Quan<strong>do</strong> eu sair <strong>da</strong>qui, vou para a casa <strong>do</strong> meu tio na Holan<strong>da</strong>, é o que<br />

eu quero e ele quer-me lá… o meu tio é com quem queria mesmo<br />

estar… queria estar com to<strong>do</strong>s mas viver em casa <strong>do</strong> meu tio… porque<br />

lá eu brinco, saio, an<strong>do</strong> de bicicleta com ele, passeio, jogo play station…<br />

não há assim aquelas regras como aqui.<br />

309<br />

Para Erikson, a essência <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de é a fideli<strong>da</strong>de, ou seja, o<br />

desenvolvimento de uma saudável interacção com a socie<strong>da</strong>de, de tal mo<strong>do</strong> que o<br />

a<strong>do</strong>lescente se vai tornar fiel a uma ideologia e a uma profissão. A fideli<strong>da</strong>de permite<br />

que o indivíduo assuma um compromisso com determina<strong>do</strong>s valores que sente como<br />

seus. Cabe à socie<strong>da</strong>de criar condições para que o a<strong>do</strong>lescente possa desenvolver<br />

este senti<strong>do</strong> de fideli<strong>da</strong>de, oferecen<strong>do</strong>-lhe princípios, ideias e valores, tarefas e<br />

modelos que ele possa a<strong>do</strong>ptar ou contestar. De facto, tal como a integração e a<br />

a<strong>do</strong>pção de modelos vigentes, também a contestação assume um papel fun<strong>da</strong>mental<br />

na construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de. A escolha profissional é um elemento relevante na<br />

emergência <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> jovem, escolha para a qual muito contribuem as<br />

capaci<strong>da</strong>des adquiri<strong>da</strong>s nos estádios anteriores.<br />

Ora, voltan<strong>do</strong> aos a<strong>do</strong>lescentes que encontramos na Clínica <strong>do</strong> Outeiro, o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!