17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

agora‖ que tentam evidenciar e corrigir os erros de raciocínio e mecanismos de<br />

pensamento que sustentam o comportamento problemático.<br />

249<br />

Beck e colabora<strong>do</strong>res propuseram um modelo específico que permite<br />

identificar sistematicamente três esquemas cognitivos característicos <strong>do</strong>s indivíduos<br />

com comportamentos aditivos. O primeiro remete para uma expectativa (esquema<br />

antecipatório) positiva acerca <strong>do</strong> consumo <strong>da</strong> substância, antecipan<strong>do</strong> a obtenção de<br />

uma vantagem ou compensação. Por exemplo, consumir álcool na expectativa de que<br />

tal ajude a divertir-se mais e melhor. Um outro esquema cognitivo típico <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

de drogas é o que remete para a esperança de reduzir uma sensação desagradável<br />

ou aliviar um sofrimento (esquema de alívio na terminologia <strong>do</strong> autor). Por exemplo,<br />

consumir cannabis contribui para diminuir as angústias. Finalmente, é comum os<br />

consumi<strong>do</strong>res accionarem um esquema permissivo que corresponde a um raciocínio<br />

desculpabilizante: ―sou capaz de parar quan<strong>do</strong> quiser‖. 257<br />

Na inferência arbitrária, o sujeito tira conclusões sem provas (―a cannabis não é perigosa para a<br />

saúde‖).<br />

Na abstracção selectiva, o sujeito foca-se num pormenor, ignoran<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os outros aspectos de<br />

uma situação (―não tive um único momento de prazer hoje‖).<br />

A sobregeneralização leva-o a generalizar a partir de um simples acontecimento (― hoje voltei a<br />

beber, portanto vou ter uma recaí<strong>da</strong>‖).<br />

No que diz respeito ao raciocínio dicotómico, o sujeito raciocina a partir de duas opções<br />

contrárias, como bom-mau, bem-mal, êxito-insucesso, sem contemplar pontos intermédios (― se não<br />

conseguir ser o melhor, então nem vale a pena fazê-lo‖).<br />

Finalmente na personalização, o sujeito responsabiliza-se por acontecimentos externos que na<strong>da</strong><br />

têm a ver consigo (―não me cumprimentou de manhã, devo ter feito alguma coisa que o deixou<br />

indisposto‖). Na maioria <strong>da</strong>s vezes, estas diferentes distorções encontram-se intrica<strong>da</strong>s umas nas outras.<br />

Permitem manter a crença de que o esquema se encontra intacto, na medi<strong>da</strong> em que a informação que<br />

confirma a crença é conserva<strong>da</strong>, enquanto a informação que contraria a crença é modifica<strong>da</strong> ou rejeita<strong>da</strong>.<br />

O que mantém as crenças <strong>do</strong> esquema cognitivo num esta<strong>do</strong> patológico é, portanto, a utilização de<br />

distorções cognitivas.<br />

257 Hassan Rahioui e Michel Reynaud, Terapias Cognitivo - Comportamentais e Adicções, op. cit., pág.<br />

121. A presença destes esquemas foi confirma<strong>da</strong> de maneira controla<strong>da</strong> numa população francesa de<br />

toxicómanos (Tison e Hautekeete, 1988) e de dependentes alcoólicos (Hautekeete, Cousin e Graziani,<br />

1999).<br />

Esquema antecipatório Esquema de alívio Esquema permissivo<br />

Álcool Se quero divertir-me,<br />

tenho de beber<br />

Tabaco Fumar aju<strong>da</strong>-me a<br />

concentrar-me no<br />

trabalho<br />

Cannabis Deliramos e divertimonos<br />

mas depois de<br />

fumar charros<br />

Heroína Sentimo-nos muito<br />

relaxa<strong>do</strong>s com uma<br />

<strong>do</strong>se de heroína<br />

Tomar um copo far-me-á<br />

sentir menos triste e<br />

afastará as<br />

preocupações<br />

Fumar deixa-me mais<br />

relaxa<strong>do</strong><br />

Aborreço-me menos se<br />

fumar um charro<br />

A heroína é a única<br />

coisa que me faz sentir<br />

bem<br />

Não vou conduzir, por<br />

isso posso beber. Só<br />

um copo não me fará<br />

mal.<br />

Não fumo muito e, além<br />

disso, compenso com o<br />

desporto.<br />

É menos grave<br />

consumir uma droga<br />

leve <strong>do</strong> que uma droga<br />

dura<br />

Tenho cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com o<br />

que compro: é droga de<br />

quali<strong>da</strong>de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!