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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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falta de outro ―nós‖ a que pertencer, não podem deixar de se identificar com essa<br />

espécie de subcultura.<br />

178<br />

É somente quan<strong>do</strong> a criança passa a ―assumir o papel <strong>do</strong>s outros‖,<br />

tornan<strong>do</strong>-se capaz de fazer o jogo de diferentes papéis, que se pode dizer que<br />

construiu aquilo a que Mead chama generalized other ou papel colectivo 197 . Ora, se a<br />

rede relacional é privilegia<strong>da</strong>mente forma<strong>da</strong> por actores sociais que, sem<br />

possibili<strong>da</strong>des, sequer, de pensar um projecto de vi<strong>da</strong> cuja concretização justificaria a<br />

concentração em metas parciais e intermédias, como esperar que a relação com o<br />

tempo carregue mais significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que a sucessiva repetição de horas e dias sempre<br />

iguais? Como esperar alguma coisa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, como concentrar energias em projectos,<br />

se to<strong>do</strong>s, ou quase to<strong>do</strong>s, à volta não visionam outro horizonte que não seja o <strong>da</strong><br />

sobrevivência, apesar de se identificarem profun<strong>da</strong>mente com os padrões de consumo<br />

e de vi<strong>da</strong> socialmente ti<strong>do</strong>s como aceitáveis?<br />

7.1 Jovens de lugares de exílio<br />

Continuan<strong>do</strong> a problematizar o nosso objecto de estu<strong>do</strong>, isto é, os<br />

constrangimentos sociais e psicológicos específicos que se abatem sobre os<br />

a<strong>do</strong>lescentes originários de meios sociais altamente vulneráveis e que os predispõem<br />

para o consumo de drogas, estamos agora em condições de complexificar a<br />

perspectiva teórica adequa<strong>da</strong> à apreensão <strong>do</strong> que mais profun<strong>da</strong> e, até,<br />

indirectamente favorece a emergência <strong>do</strong> fenómeno.<br />

Os jovens que seleccionamos para este estu<strong>do</strong> são originários <strong>do</strong> sub<br />

proletaria<strong>do</strong>, uma categoria social cujas condições de existência e mo<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong><br />

assumem contornos bem específicos, pelo que é de formular a hipótese de existir um<br />

tipo particular de situação de dependência <strong>da</strong>s drogas a requerer um diagnóstico<br />

peculiar e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de tratamento, também elas específicas.<br />

A consideração <strong>do</strong>s processos e dinâmicas de tipo macro estrutural, que<br />

são responsáveis pela privação severa de uma plurali<strong>da</strong>de de recursos<br />

condiciona<strong>do</strong>res <strong>do</strong> desenvolvimento pessoal e social, representa, a nosso ver, uma<br />

exigência incontornável se queremos compreender como é gera<strong>da</strong> a predisposição<br />

para o consumo <strong>da</strong>s substâncias em causa neste grupo social.<br />

Esta predisposição é, para além de produto <strong>da</strong> inter-relação de variáveis<br />

biológicas, psicológicas e sociais, produto de processos de construção e simbolização<br />

197 Cfr. Teresa <strong>Maria</strong> Frota Haguette, Meto<strong>do</strong>logias qualitativas na sociologia, Editora Vozes, Petrópolis,<br />

2005, págs 26 e seguintes.

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