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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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296<br />

E o mesmo se poderá problematizar a respeito <strong>da</strong>s redes de relacionamento<br />

social de que fazem ou virão a fazer parte. Se o universo relacional <strong>do</strong>s jovens<br />

permanece fecha<strong>do</strong> num estreito círculo de interacções, se não lhes forem cria<strong>da</strong>s<br />

oportuni<strong>da</strong>des de cooperar regularmente com meios sociais porta<strong>do</strong>res de referências<br />

e práticas distintas <strong>da</strong>s que lhes são habituais, como alterar as suas práticas? Se o<br />

indivíduo continuar preso em contextos sociais atingi<strong>do</strong>s por desvalorização simbólica<br />

profun<strong>da</strong> e socialmente relega<strong>do</strong>s, será lucidez esperar que venha a a<strong>do</strong>ptar valores,<br />

regras e práticas consonantes com a assumpção de responsabili<strong>da</strong>des?<br />

Sem negar que o indivíduo possa ter ti<strong>do</strong> um passa<strong>do</strong> problemático, os<br />

terapeutas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de pensam que procurar no passa<strong>do</strong> o que não correu bem não o<br />

aju<strong>da</strong>rá. Que bem pode fazer descobrir que a pessoa não ousa afirmar-se porque teve<br />

um pai <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r? O cliente e o terapeuta podem estar os <strong>do</strong>is conscientes deste<br />

facto, podem mesmo discutir durante anos, contu<strong>do</strong> isso em na<strong>da</strong> aju<strong>da</strong>rá o cliente a<br />

afirmar-se. Quanto mais sabe porque é que não é capaz de se afirmar, menos<br />

inclina<strong>do</strong> estará para o fazer, porque compreende demasia<strong>da</strong>mente bem que afirmar-<br />

se é psicologicamente <strong>do</strong>loroso 299 . Para a terapia <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, o tipo de relação<br />

estabeleci<strong>da</strong> entre o seu pai e o cliente não é relevante. O que se pretende, acima de<br />

tu<strong>do</strong>, saber é o que se passa agora e em to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> cliente.<br />

Mas, perguntamos nós, a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> pessoa depende exclusivamente de si<br />

própria e <strong>da</strong> relação com o terapeuta?<br />

As perspectivas terapêuticas exclusivamente centra<strong>da</strong>s no indivíduo<br />

esbarram numa limitação de fun<strong>do</strong> que descura a formação de estruturas adequa<strong>da</strong>s<br />

ao desencadear de uma acção colectiva. Como assegurar que aos indivíduos são<br />

assegura<strong>da</strong>s condições de inclusão nos planos económico, social e simbólico se na<strong>da</strong><br />

é feito nesse senti<strong>do</strong>? Se à saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica, a vi<strong>da</strong> volta às<br />

mesmas privações, se os contextos de socialização continuam a inviabilizar o<br />

desenvolvimento de sentimentos de pertença e de valorização, como poderá ocorrer a<br />

actualização e conservação de atitudes trabalha<strong>da</strong>s no perío<strong>do</strong> de internamento?<br />

A crítica <strong>da</strong> terapia convencional, que subscreve o pressuposto <strong>da</strong> não<br />

implicação pessoal com o cliente, assenta essencialmente no facto de o terapeuta<br />

299 William Glasser: La Thérapie de La Réalité op. cit.,pág 74. A maior parte <strong>do</strong>s clientes remeter-se-á<br />

antes para o terapeuta pedin<strong>do</strong>-lhe de: ― Agora que eu sei o motivo pelo qual não consigo afirmar-me, o<br />

que é que me vai fazer perder este me<strong>do</strong>?‖. A resposta <strong>do</strong> terapeuta não deixará de ser também frágil:<br />

―Você não tem na<strong>da</strong> a temer, o seu pai já não está em cena.‖ Seria maravilhoso se a terapia fosse assim<br />

tão simples, bastaria que o cliente conhecesse a razão <strong>do</strong> seu me<strong>do</strong> para que este desaparecesse.

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