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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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sentissem pertencer e em que descobrissem alguma utili<strong>da</strong>de para conduzir a sua<br />

vi<strong>da</strong>. To<strong>do</strong>s eles atribuem o facto de não terem interesse pela escola à sua própria<br />

responsabili<strong>da</strong>de. À excepção de uma jovem que refere, de passagem, os professores<br />

que dão a matéria muito depressa, sem cui<strong>da</strong>rem de se certificar se os alunos<br />

aprenderam, to<strong>do</strong>s os restantes evidenciam a aceitação <strong>do</strong> facto de pouco ou na<strong>da</strong><br />

terem feito na escola como fruto de uma característica pessoal, de uma escolha típica<br />

<strong>da</strong> falta de experiência e de maturi<strong>da</strong>de. A passagem pela escola, longe de permitir a<br />

descoberta de um potencial de capaci<strong>da</strong>des, é uma experiência que confirma a<br />

separação social já vivencia<strong>da</strong> no meio familiar e de residência. Apesar de reunir<br />

jovens de meios sociais os mais diversos, o território escolar acaba por ser um meio<br />

onde se somam la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, muitas vezes com desconfiança e me<strong>do</strong>, grupos de<br />

jovens que não se comunicam, nem misturam. Os depoimentos colhi<strong>do</strong>s são bem a<br />

evidência de que muitos <strong>do</strong>s que frequentam a escola não o fazem com a intenção de<br />

ir às aulas, aprender e trabalhar, mas apenas para se encontrarem com os<br />

companheiros que com eles partilham a mesma impossibili<strong>da</strong>de de se motivarem para<br />

os estu<strong>do</strong>s. Para to<strong>do</strong>s estes jovens, a escola funciona, como analisou Pierre<br />

Bourdieu 202 , entre outros, como um lugar de reprodução social, que o mesmo é dizer,<br />

não facultou o acesso a um capital cultural susceptível de viabilizar a participação em<br />

redes de relacionamento social mais diversifica<strong>da</strong>s <strong>do</strong> ponto de vista <strong>da</strong> posição social<br />

<strong>do</strong>s participantes.<br />

187<br />

Para que a escola pudesse contribuir para induzir mu<strong>da</strong>nças relevantes<br />

nos padrões e conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s interacções que estes indivíduos podem vivenciar na<br />

sua relação com os outros e consigo mesmos, seria necessário que lhes<br />

proporcionasse condições adequa<strong>da</strong>s aos seus percursos de vi<strong>da</strong> anteriores e aos<br />

seus contextos de vi<strong>da</strong> extra escolares. As incapaci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> dita escola democrática<br />

para criar as reais condições gera<strong>do</strong>ras de motivação e sucesso escolar foram<br />

teoriza<strong>da</strong>s por inúmeros autores e deram lugar a múltiplos estu<strong>do</strong>s, dispon<strong>do</strong>-se hoje<br />

de um vasto e profun<strong>do</strong> conhecimento sobre os mecanismos que levam os excluí<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong> escola a considerarem-se a si próprios como os responsáveis dessa exclusão, ou<br />

seja, a verem como falta de gosto e de interesse o que, na reali<strong>da</strong>de, é fruto de<br />

violência simbólica e de <strong>do</strong>minação cultural. Não possuin<strong>do</strong> os instrumentos<br />

conceptuais para rebater e negociar o rótulo de alunos desinteressa<strong>do</strong>s, estes aceitam<br />

o rótulo e passam a ver-se a si próprios como indivíduos pertencentes a essa<br />

categoria.<br />

Os processos de comunicação que prevalecem na escola, pelo menos<br />

em muitas, são <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s por leituras estereotipa<strong>da</strong>s, redutoras, muitas vezes, até,<br />

202 Pierre Bourdieu

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