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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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desafecto, a rispidez e a falta de apoio. Muito tempo só, a realizar as tarefas, lembra<br />

ain<strong>da</strong> a falta de conforto <strong>do</strong> espaço onde residiu. Nota ain<strong>da</strong> a frequência <strong>do</strong>s castigos,<br />

sem que muitas vezes soubesse porquê. Carla é, então, a<strong>do</strong>pta<strong>da</strong> aos 9 anos, ela e<br />

um irmão de 3 anos, que Carla desconhecia.<br />

132<br />

Recor<strong>da</strong> que passou a ter uma família nova que vivia economicamente<br />

muito bem. To<strong>da</strong>via, considera que a sua vi<strong>da</strong> foi sempre má, designa<strong>da</strong>mente no<br />

plano <strong>da</strong> relação com os pais a<strong>do</strong>ptivos. Dizem os especialistas que a organização <strong>da</strong><br />

vinculação na a<strong>do</strong>lescência se vai desenrolar distintamente consoante o tipo de<br />

modelos operantes internos construí<strong>do</strong>s durante a infância. A vinculação segura na<br />

infância parece ser preditiva de processos bem sucedi<strong>do</strong>s de futuras vinculações.<br />

Carla evidencia grandes dificul<strong>da</strong>des em se ligar à família a<strong>do</strong>ptiva, não acredita que<br />

gostem dela, não sabe como se ligar, a <strong>do</strong>r que a <strong>do</strong>mina não deixa disponibili<strong>da</strong>de<br />

para acreditar.<br />

Amélia<br />

―No princípio a minha mãe visitava-me. Quan<strong>do</strong> ela me visitava as nossas<br />

conversas eram sempre que eu ia fugir, mas ela dizia-me que eu ficasse, só<br />

para ela se tratar, e depois fugíamos as duas. Depois deixou de aparecer…<br />

sentia-me só… era pequenita mas tinha a tristeza de estar sozinha…no<br />

colégio não falavam comigo sobre isso… pelo contrário, acho que<br />

esperavam que eu aprendesse a ultrapassar essa dificul<strong>da</strong>de…que<br />

esquecesse… eu não gostava de estar lá… tratavam-nos mal. (…) desse<br />

tempo <strong>do</strong> lar lembro-me que havia muitas educa<strong>do</strong>ras. Algumas eram<br />

espectaculares, mas havia uma que era horrível. Estava sempre a castigar,<br />

batia, não deixava lavar, como castigo… os castigos eram muito frequentes,<br />

mas não explicavam… não havia lugar para conversar… havia regras a<br />

seguir… como, por exemplo, ir à escola, fazer deveres, deitar a horas,…<br />

mas afecto e carinho não havia… fazíamos tu<strong>do</strong> sozinhas… éramos muitas,<br />

mas passávamos muito tempo só entre nós… no lar era tu<strong>do</strong> mau, a<br />

alimentação, os quartos… era tu<strong>do</strong> ao molhe... nunca tive afecto nem havia<br />

aju<strong>da</strong> para na<strong>da</strong>, nem para os trabalhos de casa.<br />

Com 9 anos fui a<strong>do</strong>pta<strong>da</strong>. Lembro-me de, um dia, uma educa<strong>do</strong>ra sair<br />

comigo e fomos comprar roupa e aí conheci o meu irmão que tinha três<br />

anos. Fomos os <strong>do</strong>is a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>s pela mesma família. Mas só aí é que eu<br />

soube que tinha um irmão. Também era filho <strong>do</strong>s meus pais biológicos‖.<br />

Com nove anos, Amélia foi coloca<strong>da</strong> pelo pai algum tempo num colégio.<br />

To<strong>da</strong>via, desencadeia comportamentos desajusta<strong>do</strong>s para conseguir que a mandem<br />

embora, o que de facto acontece. O pai vai buscá-la. Depois de viver algum tempo na<br />

casa <strong>do</strong> pai, Amélia começou uma vi<strong>da</strong> errante, mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente de lugar, até<br />

acabar por viver na rua, em Valongo. A situação de aban<strong>do</strong>no <strong>da</strong> Amélia acabou por<br />

ser denuncia<strong>da</strong> pela vizinha na casa <strong>da</strong> qual tinha vivi<strong>do</strong> algum tempo, acaban<strong>do</strong> por

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