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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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sem que, por isso, a sua identi<strong>da</strong>de se sinta ameaça<strong>da</strong> 80 , não poderá, pois, dispensar<br />

uma análise bem mais fina e objectivante <strong>do</strong> que é a vinculação.<br />

Por excesso de protecção, por insuficiência de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s ou por<br />

inconsistência comportamental, as figuras parentais podem induzir instabili<strong>da</strong>de<br />

afectiva e emocional nos seus filhos e instalar dificul<strong>da</strong>des em estabelecer a<br />

proximi<strong>da</strong>de com novas figuras de vinculação 81 . Resta saber até que ponto a difusão<br />

<strong>da</strong> ideologia consumista/he<strong>do</strong>nista que impregna de mo<strong>do</strong> alarga<strong>do</strong> as concepções<br />

educativas nas socie<strong>da</strong>des actuais contribui para fragilizar os laços intergeracionais no<br />

seio <strong>da</strong> família. Até que ponto a redução <strong>do</strong> bem-estar ao ter instala nas próprias<br />

famílias considera<strong>da</strong>s funcionais a tendência para não partilhar me<strong>do</strong>s, sentimentos,<br />

emoções, gostos e expectativas.<br />

Bowlby identificou 82 padrões de funcionamento parental que configuram<br />

relações de vinculação inseguras e que, por isso mesmo, criam fortes<br />

constrangimentos a que o processo de desenvolvimento social e emocional se realize<br />

de forma harmoniosa e equilibra<strong>da</strong>.<br />

As crianças que precocemente conhecem, entre outras, a<br />

imprevisibili<strong>da</strong>de e negligência nos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s parentais, a rejeição e depreciação face<br />

ao seu comportamento de vinculação, as ameaças persistentes de deixarem de ser<br />

gosta<strong>da</strong>s, a indução de culpa, através <strong>da</strong> sua responsabilização pela <strong>do</strong>ença ou morte<br />

<strong>da</strong> figura parental, ou a atribuição prematura de responsabili<strong>da</strong>de pela vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

adultos, têm fortes probabili<strong>da</strong>des de virem a desenvolver comportamentos marca<strong>do</strong>s<br />

por eleva<strong>da</strong> e constante ansie<strong>da</strong>de ou a manifestar reacções de evitamento por me<strong>do</strong><br />

de rejeição.<br />

Pelo contrário, uma criança que desde ce<strong>do</strong> frequentou uma estrutura de<br />

socialização onde as relações de vinculação são firmes acaba por demonstrar um<br />

comportamento de maior auto-confiança <strong>do</strong> que a criança que experienciou contextos<br />

de socialização marca<strong>do</strong>s pela manifesta insuficiência de trocas sociais, pela falta de<br />

brincadeiras, de trocas de palavras, de afectos, de contactos físicos.<br />

Estas crianças, cujas figuras de vinculação são capazes de funcionar<br />

como uma base segura, de actuar de forma ―sensível‖ são mais capazes de<br />

80 Carlos Farate: ―Dependência e Dificul<strong>da</strong>des Relacionais, in O Acto <strong>do</strong> Consumo e o Gesto que<br />

Consome, Capítulo I, Editora Quarteto, Coimbra, 2001.<br />

81 René Zazzo ―A Vinculação – Uma nova Teoria sobre a origem <strong>da</strong> afectivi<strong>da</strong>de‖, op. cit., p. 35.<br />

A investigação empírica e a experiência clínica revelaram que a busca de segurança pode levar a criança<br />

a estabelecer fortes laços de dependência com adultos, sem to<strong>da</strong>via se verificar uma vinculação positiva<br />

com os mesmos. O me<strong>do</strong> <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> pode produzir uma vinculação ao objecto familiar, mesmo<br />

quan<strong>do</strong> se constitui num agente frequentemente agressivo; na situação em que a criança é puni<strong>da</strong> pelos<br />

pais, esta pode tornar-se fortemente dependente deles, pois é justamente junto deles que pode procurar<br />

segurança. Ao atingirem a a<strong>do</strong>lescência, estas crianças manifestavam problemas na construção de<br />

relações sociais estáveis.<br />

82 Bowlby, (1988), Cf. Isabel Soares, ―Vinculação: Questões Teóricas, Investigação e Implicações<br />

Clínicas”, Revista Portuguesa de Pe<strong>do</strong>psiquiatria, nº 11, 1996, p. 37.<br />

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