17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jeremy Rifkin, o <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> inutili<strong>da</strong>de expande-se à medi<strong>da</strong> que as máquinas obtêm<br />

resulta<strong>do</strong>s com valor económico fora <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s seres humanos. Tanto a<br />

migração <strong>do</strong>s postos de trabalho globaliza<strong>do</strong>s como a ver<strong>da</strong>deira automatização são<br />

casos particulares que afectam certos trabalhos, mas não to<strong>do</strong>s.<br />

Na economia moderna, o envelhecimento define um campo muito mais<br />

vasto de inutili<strong>da</strong>de, não só porque a i<strong>da</strong>de está associa<strong>da</strong> a certos preconceitos que<br />

tendem a tratar os emprega<strong>do</strong>s mais velhos como indivíduos para<strong>do</strong>s, lentos, em<br />

per<strong>da</strong> de energia, apesar <strong>da</strong> medicina moderna permitir viver e trabalhar mais tempo<br />

<strong>do</strong> que no passa<strong>do</strong> 28 , mas também porque as competências adquiri<strong>da</strong>s se extinguem<br />

rapi<strong>da</strong>mente em virtude <strong>da</strong>s rápi<strong>da</strong>s transformações tecnológicas. A «extinção <strong>da</strong>s<br />

competências» acelerou-se, não só no trabalho técnico, como na medicina, no direito<br />

e em diversas outras profissões. Na informática, calcula-se que os repara<strong>do</strong>res de<br />

computa<strong>do</strong>res têm de se reciclar três vezes durante a vi<strong>da</strong> profissional e o número é<br />

praticamente o mesmo para os médicos. Por outras palavras, adquirir uma<br />

competência não equivale a possuir um bem permanente. Nos nossos dias, criar<br />

empregos para to<strong>do</strong>s à maneira antiga equivale a desafiar ou a ignorar o moderno<br />

poder tecnológico. À medi<strong>da</strong> que a automatização avança, o <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong>s<br />

competências humanas fixas reduz-se e, ca<strong>da</strong> vez mais, o indivíduo é pressiona<strong>do</strong><br />

para adquirir novas competências, mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a sua «base de conhecimento». Na<br />

reali<strong>da</strong>de, esse ideal é impulsiona<strong>do</strong> pela necessi<strong>da</strong>de de continuar à frente <strong>da</strong><br />

máquina.<br />

As mu<strong>da</strong>nças estruturais implica<strong>da</strong>s no desmantelamento <strong>da</strong> ―jaula de<br />

ferro‖ burocrática engendram três défices sociais, a fraca leal<strong>da</strong>de institucional, a<br />

diminuição <strong>da</strong> confiança informal entre os trabalha<strong>do</strong>res e o enfraquecimento <strong>do</strong><br />

conhecimento institucional.<br />

As instituições de vanguar<strong>da</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil inspiram graus de<br />

leal<strong>da</strong>de extremamente baixos. Não é difícil descobrir porquê. ―Se um emprega<strong>do</strong>r<br />

disser a alguém que terá de se desenvencilhar sozinho, que a instituição não o aju<strong>da</strong>rá<br />

quan<strong>do</strong> estiver em apuros, por que haveria essa pessoa de ter um forte sentimento de<br />

leal<strong>da</strong>de em relação à instituição? A leal<strong>da</strong>de é uma relação de participação; nenhum<br />

projecto empresarial, por muito belo e lógico que seja, pode, por si só, obter a leal<strong>da</strong>de<br />

28 Richard Sennett, A Cultura <strong>do</strong> Novo Capitalismo op.cit., pág. 69 e 70. Como a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> reforma continua<br />

a vigorar aos níveis antigos, os homens dispõem agora de quinze a vinte anos em que poderiam ser<br />

emprega<strong>do</strong>s de maneira produtiva, mas não são.<br />

21

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!