17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

para o desenvolvimento cognitivo e emocional <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes tão gravosamente<br />

penaliza<strong>do</strong>s desde o seu nascimento seria a oferta de um programa cultural<br />

ver<strong>da</strong>deiramente orienta<strong>do</strong> para o alargamento <strong>do</strong>s interesses, <strong>do</strong>s gostos e para a<br />

implicação em práticas colectivas gera<strong>do</strong>ras de partilha e ligações. Mais uma vez, a<br />

nossa observação directa <strong>do</strong> terreno nos confirma a ideia de que no caso destes<br />

a<strong>do</strong>lescentes, priva<strong>do</strong>s de contacto com as expressões culturais mais elabora<strong>da</strong>s, o<br />

contexto recria<strong>do</strong> na Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica é manifestamente insuficiente para<br />

neles induzir a implicação em práticas recorrentes que os fazem sentir-se liga<strong>do</strong>s a um<br />

colectivo pelo qual são responsáveis.<br />

321<br />

O que nos parece é que o programa terapêutico a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> privilegia a<br />

terapia e secun<strong>da</strong>riza outros <strong>do</strong>mínios de aprendizagem e socialização cruciais para a<br />

inserção social. Uma tal orientação poderá ser adequa<strong>da</strong> e produzir os efeitos<br />

deseja<strong>do</strong>s em a<strong>do</strong>lescentes de proveniências sociais mais favoráveis. No caso<br />

<strong>da</strong>queles a quem não foi permiti<strong>do</strong> superar os dilemas e tarefas próprias <strong>do</strong> normal<br />

desenvolvimento psicossocial, nos termos defini<strong>do</strong>s por Erikson, por exemplo, o que<br />

nos parece é que seria preciso um programa global de reeducação. Sem isso, será<br />

muito improvável arrancá-los à dependência de drogas e à fuga para estratégias de<br />

inversão <strong>da</strong> escala de valores e de inserção nas margens <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

O princípio teórico que subscreve o prima<strong>do</strong> <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> comportamento<br />

a fim de que seja possível induzir a <strong>da</strong>s atitudes é, quanto a nós, de grande<br />

pertinência teórica e prática. O que não está suficientemente reflecti<strong>do</strong> no programa<br />

que a Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica importou <strong>do</strong> Canadá é, precisamente, a questão <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong>de social e cultural <strong>do</strong>s indivíduos, postulan<strong>do</strong> indistintamente a mesma<br />

intervenção para to<strong>do</strong>s, independentemente <strong>da</strong> sua história, recursos, conhecimentos,<br />

instrumentos intelectuais, capitais económico, cultural e social.<br />

Certo que as suas infelici<strong>da</strong>des não poderão ser justificação para os<br />

comportamentos desajusta<strong>do</strong>s e irresponsáveis, certo que podemos e devemos<br />

aceitar as suas narrativas sem opor nenhuma crítica, certo que lhes deve ser dito, de<br />

forma calorosa mas firme, que são responsáveis pelos seus actos, pouco importan<strong>do</strong><br />

que a sua vi<strong>da</strong> passa<strong>da</strong> tivesse si<strong>do</strong> infeliz, caótica ou sem amor. Certo que descobrir<br />

até que ponto o passa<strong>do</strong> foi terrível não aju<strong>da</strong> em na<strong>da</strong>, se a pessoa nunca conseguir<br />

aprender a comportar-se de forma mais razoável.<br />

Mas, se não atentarmos que condições de vi<strong>da</strong> há que são demasia<strong>do</strong><br />

penosas e impeditivas <strong>da</strong> organização interna e <strong>do</strong> controlo sobre a existência, como

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!