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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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― só me lembro a partir <strong>do</strong>s 6 anos … vivia com o meu pai, a minha mãe e<br />

<strong>do</strong>is irmãos mais velhos … uma irmã que tem agora 19 anos e um irmão<br />

que tem 20. … Lembro-me que o meu pai era assim … muitas vezes,<br />

chegava a casa sempre a vomitar … a minha mãe raro aparecia em casa …<br />

e os meus pais começaram a <strong>da</strong>r-se mal … e o meu pai batia na minha<br />

mãe. … a minha mãe ia trabalhar e o meu pai começou a desconfiar .. e,<br />

um dia, foi esperá-la ao trabalho e viu-a de mão <strong>da</strong><strong>da</strong> com o meu padrasto.<br />

… nós estávamos sempre sós e o meu pai não suportava aquilo <strong>da</strong> minha<br />

mãe … e, um dia, no S. João, quase a ia matar com uma faca … O meu pai,<br />

to<strong>do</strong>s os dias, batia à minha mãe … eu tenho um trauma disso … eu era<br />

muito pequena, mas lembro-me disso. Até que houve um dia em que a<br />

minha mãe me aban<strong>do</strong>nou … nessa altura, vivíamos muito mal …nem<br />

comíamos, nem na<strong>da</strong> … era sempre ovos estrela<strong>do</strong>s …O meu pai não<br />

podia com nós os três, nem trabalhava, nem na<strong>da</strong> … e depois eles foram ao<br />

tribunal e foi mau … a juíza disse à minha mãe o que ela preferia … ―ou<br />

prefere as chávenas ou um <strong>do</strong>s seus filhos‖ … e a minha mãe escolheu as<br />

chávenas … e depois, o meu pai queria que eu fosse para a minha mãe,<br />

porque o meu pai não podia com os três. … Mas, a minha mãe não me<br />

queria … ela queria era uma vi<strong>da</strong> … ela e o meu padrasto. … Mas, o meu<br />

pai não podia e, um dia, disse-me: arranja as tuas roupas que vou levar-te à<br />

tua mãe. … E eu arranjei e o meu pai levou-me ao trabalho <strong>da</strong> minha mãe,<br />

esperou-a e quan<strong>do</strong> ela saiu disse-lhe que eu ia ficar com ela … tinha eu 7<br />

ou 8 anos …Não gostava <strong>do</strong> meu padrasto … nunca fui com a cara dele …<br />

não suportava aquilo ao meu pai e de um momento para o outro a minha<br />

mãe teve um esgotamento, uma depressão …sei lá, ain<strong>da</strong> um dia destes<br />

dias ela veio cá e não está bem … parece outra pessoa … ela já chegou a<br />

estar interna<strong>da</strong> … sabe …num desses hospitais para pessoas que são<br />

<strong>do</strong>entes, de malucos, de problemas psicológicos, acho que se diz assim, ou<br />

lá o que é … sabe … ela às vezes começa a partir tu<strong>do</strong>, louças, tu<strong>do</strong> …<br />

recusava-me sempre a viver com a minha mãe … eu passava o tempo a<br />

fugir, passava o tempo entre a casa <strong>do</strong> meu pai, <strong>da</strong> minha mãe e <strong>da</strong> minha<br />

avó. … os meus irmãos estavam com a minha avó … e eu ia estar com eles<br />

… até que, depois, o meu pai foi para o Algarve… arranjou uma madrasta e,<br />

depois, eu fui com ele … mas não muito tempo … porque era muito longe e<br />

eu não queria lá ficar … embora me desse bem com a minha madrasta …<br />

depois, vim e fui para casa <strong>da</strong> minha avó … ..e depois, ai é que me meti<br />

nas drogas … Quan<strong>do</strong> vivia com o meu pai e a minha mãe, o meu pai<br />

chegava a casa bêba<strong>do</strong> … eu sentia-me descontrola<strong>da</strong> … em relação ao<br />

meu pai e à minha mãe era sempre conflitos … não me lembro de passar<br />

uma tarde com o meu pai e a minha mãe e estar quietinha a ver um filme …<br />

<strong>da</strong>rmo-nos bem … A minha mãe era sempre. . . não digo que fosse<br />

indiferente, mas nunca me deu carinho, sei lá, não suportava aquilo,<br />

apetecia-me foder a casa to<strong>da</strong>. Sentia-me só, rejeita<strong>da</strong>, triste, zanga<strong>da</strong>,<br />

revolta<strong>da</strong>, sei lá, impotente de estar sempre a viver as mesmas coisas,<br />

traí<strong>da</strong> pela minha mãe. O meu pai foi o único que me recebeu …Depois, <strong>da</strong>í<br />

para a frente, foi distância total com a minha mãe. Tanto a minha mãe<br />

cagou para mim como eu caguei para ela. …<br />

Depois fui para casa <strong>da</strong> minha avó … Primeiro a minha avó tinha ―posses‖<br />

para mim, como quem diz, <strong>da</strong>va regras, impunha-se, dizia não podes sair,<br />

podes ir aqui e ali, tens de vir a estas horas … mas, depois, eu já tinha para<br />

aí uns 14 anos e eu só fiz o que quis … depois eu portei-me mal e isso,<br />

roubos e assim, e a minha avó não me quis mais e disse para ir para casa<br />

<strong>do</strong> meu pai. …<br />

O meu pai já vivia no <strong>Porto</strong>. O meu pai dizia: tens meia hora para chegar a<br />

casa, sais às 6h <strong>da</strong> escola, tens tempo para chegar às seis e meia, a essa<br />

hora tens de chegar a casa. Mas eu ficava lá a consumir com os meus<br />

amigos …<br />

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