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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Canadá, entre mãe, pai e avó, para a qual nunca descobriu o senti<strong>do</strong>. Não<br />

falavam com ele, nunca lhe diziam porque tinha de ser assim. A sua vi<strong>da</strong> parece<br />

estar marca<strong>da</strong>, desde muito ce<strong>do</strong>, por um crescimento sem interlocutores, em que<br />

os laços com outros significativos são ténues ou, mesmo, ausentes. Da sua<br />

infância recor<strong>da</strong> ter si<strong>do</strong> muitas vezes puni<strong>do</strong> pela mãe embora a inoportuni<strong>da</strong>de<br />

de alguns castigos se devesse ao facto de a mãe se encontrar alcooliza<strong>da</strong>,<br />

emocionalmente muito instável. Tu<strong>do</strong> parece indicar que estamos perante uma<br />

situação em que a fragili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s laços familiares, a ausência de modelos<br />

consistentes e a inexistência de comunicação afectiva foram responsáveis por<br />

uma iniciação precoce no consumo de drogas e outras práticas marginais. Com<br />

uma vi<strong>da</strong> interior marca<strong>da</strong> por forte escassez de afectos e de referências<br />

significativas em matéria de regras, limites e laços sociais, a fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sua<br />

estrutura individual tornou-o fortemente vulnerável, no início <strong>da</strong> sua a<strong>do</strong>lescência,<br />

a formas de vi<strong>da</strong> marginais. Manifestação de fuga e simultaneamente tentativa de<br />

reorganização interna, é no grupo de pares que procura experimentar sentimentos<br />

de reconhecimento e valorização de si próprio. Inseguro de si, com uma baixa<br />

auto-estima, confronta<strong>do</strong> com a desvalorização e, por último, a rejeição <strong>da</strong> mãe,<br />

foi nos laços de amizade temporária que começou a estabelecer que procurou a<br />

superação <strong>da</strong>s suas inseguranças, provan<strong>do</strong> a si mesmo o seu valor pessoal.<br />

Nasci no Canadá e tive uma infância junto <strong>da</strong> minha mãe, <strong>do</strong> meu pai e de<br />

uma irmã mais velha, até aos 6 anos. Nesta i<strong>da</strong>de os meus pais separaramse<br />

e fui com a minha mãe viver para os Açores, em Fenais <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, em S.<br />

Miguel. É uma freguesia com muita gente envolvi<strong>da</strong> em drogas. Não é<br />

freguesia boa. Aí vivi a minha vi<strong>da</strong> até aos 9 anos, com a minha avó, a<br />

minha mãe e uma irmã mais velha. Desse tempo lembro-me que vivíamos<br />

com muitas dificul<strong>da</strong>des económicas. Quan<strong>do</strong> vivi nos Açores, a minha mãe<br />

trabalhava como emprega<strong>da</strong> de limpeza no Centro de Saúde. Aos 9 anos<br />

regressei com a minha mãe ao Canadá e fiquei lá até aos 12 anos. No<br />

Canadá, a minha mãe trabalhava como emprega<strong>da</strong> de limpeza num hotel,<br />

mas tínhamos aju<strong>da</strong> <strong>do</strong> Welfare, tínhamos um subsídio tipo <strong>da</strong> Segurança<br />

Social para aju<strong>da</strong>r a viver. Vivíamos numa zona muito distante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

onde a minha mãe trabalhava. Era em Lon<strong>do</strong>n/Ontário. Vivíamos num<br />

prédio onde havia muitos, muitos apartamentos, mas não havia confusão<br />

entre os vizinhos. O apartamento onde vivíamos era bom, chegava para os<br />

<strong>do</strong>is. Era uma zona mais ou menos, não muito pobre, mas muito afasta<strong>da</strong>.<br />

Já a minha mãe vinha de uma família que vivia em situação pobre. A minha<br />

mãe foi a<strong>do</strong>pta<strong>da</strong> por uma tia-avó porque a minha avó ver<strong>da</strong>deira tinha sete<br />

filhos e não tinha dinheiro para os criar.<br />

O meu pai trabalhava, e ain<strong>da</strong> trabalha, em agências de viagem. Do meu<br />

pai pouco sei. Sei que tenho duas meias-irmãs… uma irmã, praticamente <strong>da</strong><br />

minha i<strong>da</strong>de, é filha de uma relação que o meu pai teve enquanto estava<br />

casa<strong>do</strong> com a minha mãe. Outra, mais nova, é filha de uma outra relação <strong>do</strong><br />

meu pai, já depois de estar separa<strong>do</strong> <strong>da</strong> minha mãe. Depois de regressar<br />

aos Açores, aos 12 anos, fiquei a viver com a minha tia-avó e, mais ou<br />

menos nessa i<strong>da</strong>de, a minha mãe aban<strong>do</strong>nou-nos, arranjou um<br />

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