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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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157<br />

grande prazer, que eu gostei muito e isso levou-me a continuar sempre a<br />

consumir‖.<br />

Além <strong>da</strong> ilegali<strong>da</strong>de, outros factores concorreriam, em princípio, para<br />

limitar o uso <strong>da</strong> droga, designa<strong>da</strong>mente a percepção <strong>do</strong>s prejuízos advin<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s<br />

interpretações que esta prática suscita entre os não consumi<strong>do</strong>res. O utiliza<strong>do</strong>r<br />

acredita ser rejeita<strong>do</strong> por aqueles cuja estima e aprovação deseja manter e,<br />

esperan<strong>do</strong> que as suas relações com os não fuma<strong>do</strong>res não venham a ser altera<strong>da</strong>s<br />

ou rompi<strong>da</strong>s, caso seja desmascara<strong>do</strong>, limita e controla a sua prática em função <strong>da</strong><br />

importância que atribui a estas relações. Também, este tipo de controlo tende a<br />

desaparecer com a experiência prolonga<strong>da</strong> <strong>da</strong> droga, quan<strong>do</strong> o utiliza<strong>do</strong>r se apercebe<br />

que não será necessariamente descoberto. Esta convicção reforça-se, possibilitan<strong>do</strong> a<br />

passagem a um nível superior.<br />

A observação <strong>do</strong>s fuma<strong>do</strong>res mais experientes que se entregam à droga<br />

sem temor apazigua o receio de ser descoberto e fornece ao principiante as<br />

racionalizações para realizar uma primeira tentativa. Persistin<strong>do</strong> em utilizar a<br />

marijuana, aperceber-se-á que pode consumir droga tantas vezes quanto queira,<br />

desde que seja prudente e que se assegure de que os não fuma<strong>do</strong>res não o<br />

conseguirão interromper.<br />

To<strong>da</strong>via, a passagem ao esta<strong>do</strong> em que o consumo se torna regular<br />

implica enfrentar o obstáculo que se prende com o facto de os universos <strong>do</strong>s<br />

fuma<strong>do</strong>res e não fuma<strong>do</strong>res não estarem completamente separa<strong>do</strong>s. Os pontos de<br />

contacto entre estes <strong>do</strong>is universos aparecem ao fuma<strong>do</strong>r ocasional como perigosos<br />

e, em consequência, este procura limitar a utilização às ocasiões em que tais<br />

contactos são improváveis. Duas atitudes são possíveis face ao consumo regular, uma<br />

que consiste em admitir que se pode fumar diante <strong>do</strong>s não fuma<strong>do</strong>res, sem correr o<br />

risco de ser desmascara<strong>do</strong>, a outra que consiste em suprimir quase to<strong>do</strong>s os contactos<br />

com os não fuma<strong>do</strong>res 167 .<br />

A antecipação <strong>da</strong>s consequências <strong>da</strong> descoberta <strong>do</strong> seu segre<strong>do</strong> impede<br />

o indivíduo de conservar as <strong>do</strong>ses indispensáveis a um consumo regular. O uso <strong>da</strong><br />

droga mantém-se irregular, uma vez que o indivíduo não pode fumar to<strong>da</strong> a vez que o<br />

deseja, mas somente em função <strong>do</strong>s seus reencontros com outros utiliza<strong>do</strong>res. Se não<br />

167 Howard Becker, Outsiders, Études de sociologie de la deviance op.cit., pág. 91 a 92. ― As observações<br />

de um jovem, que tentava em vão utilizar regularmente a droga viven<strong>do</strong> em casa de seus pais, ilustram o<br />

primeiro tipo de risco:<br />

Eu nunca gostei de a ter em casa. Porque eu penso que a minha mãe podia encontrá-la, ou qualquer<br />

coisa assim. [O que é que ela te teria dito a esse respeito?] Eh, bom…eles nunca falam disso, <strong>do</strong>s<br />

droga<strong>do</strong>s e tu<strong>do</strong> isso mas no meu caso seria ver<strong>da</strong>deiramente atrapalhante, sei-o bem, porque eu faço<br />

parte de uma grande família: os meus irmãos e as minhas irmãs julgar-me-iam muito mal. [E tu não o<br />

desejas?] Não, eu creio que não‖.

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