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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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imagináveis, a ver<strong>da</strong>de é que nem to<strong>do</strong>s são, na mesma medi<strong>da</strong>, realizáveis. Cabe à<br />

educação aju<strong>da</strong>r a criança a saber agir consequentemente e não de maneira<br />

impulsiva.<br />

A complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> experiência <strong>do</strong> desejo humano remete para o facto de<br />

este não ser redutível, nem à experiência <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de, nem à <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>. É por<br />

este facto que a pessoa fica muitas vezes dividi<strong>da</strong> entre desejos que procuram impor-<br />

se sem ter em conta a reali<strong>da</strong>de. Por isso, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> desejo deve ser educa<strong>do</strong>, para<br />

que se liberte <strong>do</strong>s seus aspectos imaginários e, logo, inacessíveis. Pertencentes a um<br />

registo que escapa muitas vezes à racionali<strong>da</strong>de humana, os desejos veiculam<br />

imagens de apetites idealiza<strong>do</strong>s. São esses apetites que o toxicodependente pensa<br />

poder satisfazer, fecha<strong>do</strong> como está num desejo to<strong>do</strong>-poderoso que na<strong>da</strong> o aju<strong>da</strong> a<br />

envolver-se com os prazeres reais que podem gerar uma existência positiva.<br />

O ponto forte <strong>da</strong> argumentação de Anatrella remete para a importância<br />

decisiva que assume o trabalho de elaboração <strong>do</strong> desejo, sempre em função <strong>da</strong>s<br />

características <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de exterior e <strong>da</strong>s exigências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> moral. Se, no senti<strong>do</strong><br />

psicológico <strong>do</strong> termo, o desejo remete sempre para cenários imaginários, que é<br />

importante reconhecer para nos compreendermos pessoalmente, se o desejo é uma<br />

inspiração proveniente <strong>da</strong>s profundezas <strong>da</strong> psicologia humana que participa no<br />

dinamismo íntimo <strong>do</strong> sujeito, nem assim devemos considerá-lo como uma reali<strong>da</strong>de<br />

que se deve realizar. Essa é a armadilha em que o toxicodependente cai,<br />

precisamente porque não possui os meios para discernir as fantasias e expectativas<br />

infantis e elaborar os meios de as coadunar com a reali<strong>da</strong>de exterior e com os valores<br />

morais.<br />

Porta<strong>do</strong>res de uma história íntima, infantil e familiar, mas também de um<br />

espaço interior no qual se elaboram desejos, que, na sua maioria, nunca foram<br />

satisfeitos, não podemos ceder a to<strong>do</strong>s os desejos, sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> estes são<br />

irrealistas e liga<strong>do</strong>s a expectativas impossíveis <strong>da</strong> infância. Quan<strong>do</strong> somos cativos <strong>do</strong>s<br />

desejos não eluci<strong>da</strong><strong>do</strong>s, a procura que realizamos no mun<strong>do</strong> exterior não é mais <strong>do</strong><br />

que a projecção <strong>da</strong>s primeiras experiências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> liga<strong>da</strong>s a determina<strong>da</strong>s pulsões e<br />

a certas satisfações.<br />

Ora, o que acontece é que o nosso contexto social valoriza, por vários<br />

meios, a fragmentação e a dispersão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pulsional e incita os indivíduos a<br />

permanecerem nas agitações mais fantasiosas e anti-sociais <strong>da</strong> infância. A socie<strong>da</strong>de<br />

favorece condutas incoerentes que fragilizam a organização interior <strong>da</strong> pessoa, o que<br />

é particularmente ver<strong>da</strong>de no indivíduo que se droga. Neste caso, o que está em<br />

causa é que o dependente de drogas procura encontrar um apaziguamento e uma<br />

satisfação que nunca conheceu, nem conhecerá desse mo<strong>do</strong>. Estamos, pois, em<br />

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