17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

segun<strong>do</strong> os assalaria<strong>do</strong>s, de tal mo<strong>do</strong> que os menos qualifica<strong>do</strong>s são hoje também os<br />

menos protegi<strong>do</strong>s.<br />

340<br />

Desde logo, a noção de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de orgânica, mais ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> que durante o<br />

perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> industrialização <strong>do</strong>s gloriosos anos trinta, parece à primeira vista bastante<br />

problemática. Como conceber a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de num mun<strong>do</strong> económico que empurra os<br />

mais vulneráveis para a inactivi<strong>da</strong>de ou para a precarie<strong>da</strong>de institucionaliza<strong>da</strong>? Este<br />

processo conduziu a um aumento considerável <strong>da</strong> população socialmente<br />

desqualifica<strong>da</strong>.<br />

A noção de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de numa perspectiva de universali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s direitos,<br />

de prevenção e de redistribuição institucionaliza<strong>da</strong> são, pouco a pouco, substituí<strong>da</strong>s<br />

por noções de responsabili<strong>da</strong>de individual. De resto, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de é frequentemente<br />

compreendi<strong>da</strong> como uma acção minimalista, reserva<strong>da</strong> à esfera <strong>da</strong> assistência para os<br />

mais desfavoreci<strong>do</strong>s.<br />

A primeira ruptura <strong>do</strong> laço de participação orgânica diz respeito ao<br />

desemprego, quer dizer à cessação constrangi<strong>da</strong> <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de profissional, a qual,<br />

quan<strong>do</strong> é durável, se traduz por um enfraquecimento <strong>do</strong> nível de vi<strong>da</strong>. As<br />

investigações sobre as experiências vivi<strong>da</strong>s de desemprego, de pobreza e de<br />

constrangimento que remete para a assistência permitiram verificar o risco de as<br />

pessoas que experimentam essa situação se sentirem e serem socialmente<br />

desqualifica<strong>da</strong>s.<br />

Existem numerosos casos de descriminação no acesso aos direitos sociais.<br />

Em to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des modernas, mas de forma variável de um país para outro,<br />

subsiste ain<strong>da</strong> uma proporção significativa de indivíduos que experimentam o<br />

sentimento de estarem desliga<strong>do</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de na qual vivem, de não possuírem<br />

qualquer pertença política, de serem como estrangeiros face ao jogo que os<br />

responsáveis políticos produzem.<br />

Para explicar essa desligação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, os sociólogos atribuem<br />

importância às condições sociais e culturais <strong>da</strong> socialização <strong>da</strong> criança, enquanto que<br />

os psicólogos são sensíveis às questões relativas à vinculação entre a criança e os<br />

seus pais, nomea<strong>da</strong>mente à sua mãe. Mesmo se as suas abor<strong>da</strong>gens diferem, eles<br />

estão de acor<strong>do</strong> sobre o papel primordial <strong>da</strong>s relações familiares na constituição <strong>da</strong><br />

personali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança e na aprendizagem <strong>da</strong>s normas e <strong>da</strong>s exigências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

social. Muitas dessas abor<strong>da</strong>gens puseram em evidência que as crianças<br />

confronta<strong>da</strong>s, desde muito jovens, com a violência e o alcoolismo <strong>do</strong>s seus pais são<br />

marginaliza<strong>da</strong>s pelas outras crianças e impedi<strong>da</strong>s de com estas estabelecerem<br />

relações. Uma criança que é marginal na escola é duplamente mal prepara<strong>da</strong> por falta

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!