17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

carência de oportuni<strong>da</strong>des que objectivamente pesaram e continuam a pesar sobre as<br />

suas possibili<strong>da</strong>des de desenvolvimento psicossocial. Trata-se de um programa<br />

terapêutico eventualmente bem adequa<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>lescentes e jovens <strong>da</strong>s classes<br />

médias, cujas famílias lhes providenciaram e continuam a providenciar trunfos cruciais<br />

para a inclusão social. Por exemplo, se considerarmos a componente cognitiva <strong>do</strong><br />

programa logo compreenderemos que o sucesso desta abor<strong>da</strong>gem está dependente<br />

de certas estruturas mentais, aquisições cognitivas e conceitos que, por sua vez,<br />

condicionam a adesão à terapia. Nas situações <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes originários de certas<br />

subculturas, tais como a cultura <strong>da</strong> pobreza ou as culturas desviantes, a adesão às<br />

terapias esbarra, desde logo, com o não <strong>do</strong>mínio de conceitos e a insipiência <strong>do</strong><br />

pensamento abstracto. Não raro, o desprezo por valores e regras foi interioriza<strong>do</strong> na<br />

primeira socialização, logo como reali<strong>da</strong>de natural que não se questiona. Além disso,<br />

há que considerar que a ruptura com tais subculturas é impossível sem a tal estrutura<br />

de plausibili<strong>da</strong>de de que falam Berger e Luckmann. Ou seja, se não existir uma rede<br />

de relacionamento social porta<strong>do</strong>ra de valores, padrões de conduta, objectivos e<br />

práticas suficientemente consistentes e coerentes não será possível desencadear a<br />

desestruturação <strong>da</strong>s disposições profun<strong>da</strong>mente instala<strong>da</strong>s.<br />

314<br />

Como poderá a Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica responder a essa necessi<strong>da</strong>de de<br />

recriar ambientes repara<strong>do</strong>res e estruturantes, se parte significativa <strong>do</strong> que preenche a<br />

vi<strong>da</strong> fica fora <strong>da</strong> acção terapêutica? Em termos mais concretos, basta pensar na<br />

formação escolar e profissional <strong>do</strong>s jovens, que, seguramente, deveria fazer parte <strong>do</strong><br />

projecto de vi<strong>da</strong> de to<strong>do</strong>s, para perceber quanto a intervenção terapêutica está longe<br />

de encarar algumas necessi<strong>da</strong>des elementares para poder evoluir para a vi<strong>da</strong> adulta<br />

responsável. E que dizer <strong>da</strong> falta de família de que muitos <strong>do</strong>s jovens interna<strong>do</strong>s<br />

padecem? Na escassez de laços primários e intermediários que os liguem à<br />

socie<strong>da</strong>de, que lhes devolvam sentimentos de pertença e de valorização, que previsão<br />

podemos fazer acerca <strong>do</strong> futuro após saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de?<br />

William Glasser diz que a teoria e a prática <strong>da</strong> terapia <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de são<br />

incompatíveis com o conceito, largamente aceite, de <strong>do</strong>ença mental. A crença de que<br />

as pessoas podem sofrer de uma <strong>do</strong>ença mental particular que requer um diagnóstico<br />

e um tratamento específico é um erro que se transforma numa barreira importante à<br />

a<strong>do</strong>pção de um tratamento psicológico apropria<strong>do</strong>. A maior parte <strong>do</strong>s terapeutas<br />

convencionais pensam que o comportamento desviante é fruto de uma série de<br />

experiências infelizes que podem ser supera<strong>da</strong>s por via <strong>da</strong> terapia. Após a sua toma<strong>da</strong><br />

de consciência, o indivíduo restabelece-se, à semelhança <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença física tratável<br />

com o medicamento adequa<strong>do</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!