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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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REFLEXÕES FINAIS E CONCLUSÕES: NOVO PONTO DE PARTIDA<br />

329<br />

Na primeira parte deste trabalho procuramos relacionar as práticas de<br />

consumo e dependência de drogas com a dissipação <strong>do</strong>s laços colectivos que podem<br />

preservar os indivíduos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> existência, evitar o isolamento social e<br />

providenciar meios de acção colectiva orienta<strong>do</strong>s para a concretização de mo<strong>do</strong>s<br />

alternativos de existência.<br />

A reflexão que aí foi desenvolvi<strong>da</strong> destaca uma plurali<strong>da</strong>de de<br />

manifestações <strong>da</strong>s dinâmicas de desfiliação social e de ascensão <strong>do</strong> individualismo<br />

negativo que não deixarão de aumentar a vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s indivíduos face aos<br />

constrangimentos que se vêm expandin<strong>do</strong> sob o impulso <strong>do</strong> retorno ao capitalismo<br />

concorrencial. Nas socie<strong>da</strong>des que haviam evoluí<strong>do</strong> para o Esta<strong>do</strong> de Bem Estar<br />

Social, cuja edificação comportou sacrifícios e custos humanos eleva<strong>do</strong>s, avança um<br />

intenso processo de desligação social, ao mesmo tempo que as instituições realizam<br />

um trabalho de inculcação ideológica que consiste em fazer crer que tu<strong>do</strong> é acessível<br />

a to<strong>do</strong>s. Por outras palavras, certas instituições, como, por exemplo, a escola, simulam<br />

a acessibili<strong>da</strong>de universal <strong>do</strong>s recursos para cuja distribuição concorrem, envolven<strong>do</strong>-<br />

se numa ver<strong>da</strong>deira produção colectiva de fenómenos de fuga e idealização <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de.<br />

Apesar <strong>da</strong> acentua<strong>da</strong> per<strong>da</strong> de poder negocial <strong>da</strong>s classes trabalha<strong>do</strong>ras, de<br />

que a crise <strong>do</strong> movimento sindical é uma manifestação importante e de que advieram<br />

consequências particularmente gravosas no que toca às possibili<strong>da</strong>des de exercer<br />

algum <strong>do</strong>mínio sobre a própria existência, encontramo-nos hoje bem longe <strong>da</strong>s formas<br />

de acção colectiva que corporizavam a união política de agentes movi<strong>do</strong>s por<br />

interesses, uma visão e projecto de socie<strong>da</strong>de, em alguma medi<strong>da</strong> alternativo ao<br />

modelo <strong>do</strong> capitalismo concorrencial puro e duro.<br />

Para aprofun<strong>da</strong>r apenas um pouco as afirmações que acabámos de fazer,<br />

atentemos, para começar, no ―formidável‖ trabalho de idealização <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que o<br />

sistema de ensino leva a cabo nas modernas socie<strong>da</strong>des mais desenvolvi<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s<br />

nossos dias. Com efeito, não parece exagero de pessimismo ler a actual tendência<br />

para alargar o tempo de retenção <strong>da</strong>s gerações jovens no sistema de ensino, que a<br />

escolari<strong>da</strong>de obrigatória de <strong>do</strong>ze anos ilustra, como um exemplo paradigmático desse<br />

processo de simulação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que é atribuir uma certificação a quem não<br />

realizou aprendizagens significativas, nem sequer as mais elementares. À luz <strong>da</strong><br />

leitura durkheimiana <strong>do</strong>s factos sociais, designa<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> coesão social, não será<br />

fácil fugir à interpretação que atribui a concessão de diplomas, sem as

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