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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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interpretação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social‖ 103 . Dota<strong>da</strong>s de uma autonomia relativa, elas são<br />

mediatiza<strong>da</strong>s pela subjectivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s estruturas de consciência, ao mesmo tempo que<br />

desempenham o papel de mediação entre as estruturas sociais e as estruturas de<br />

consciência.<br />

3.4. Das narrativas aos conteú<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong>: vi<strong>da</strong> subjectiva e singulari<strong>da</strong>de de<br />

ca<strong>da</strong> mun<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong><br />

Mais <strong>do</strong> que meras sequências de situações factuais, as narrativas são<br />

um registo não neutro <strong>do</strong>s acontecimentos que evocam. A memória selecciona<br />

acontecimentos, oculta outros, interpreta, reelabora motivos que permitem, ao próprio<br />

e aos interlocutores, compreender o como e o porquê <strong>do</strong>s acontecimentos vivi<strong>do</strong>s e<br />

<strong>do</strong>s efeitos que estes provocaram.<br />

Produto <strong>do</strong> acto <strong>do</strong> sujeito enuncia<strong>do</strong>r numa situação de interacção com<br />

um narra<strong>do</strong>r, a narrativa apresenta-se como um objecto de síntese entre o registo <strong>do</strong><br />

tempo e o <strong>da</strong> articulação significante 104 . Ponto central <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> biográfico, a narrativa<br />

reporta o investiga<strong>do</strong>r para o tempo vivi<strong>do</strong> pelo investiga<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong>-lhe a<br />

reorganização <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong>, segun<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> que o próprio atribui ao que<br />

narra. No dizer de Ferraroti 105 , a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> subjectivi<strong>da</strong>de é a que torna possível<br />

reconstruir o alcance objectivo de uma consciência individual, num tempo próprio.<br />

A leitura psicossocial <strong>da</strong>s histórias de vi<strong>da</strong> que a abor<strong>da</strong>gem biográfica<br />

promove, para além de permitir aceder a constrangimentos e condicionantes sociais<br />

<strong>da</strong> existência social <strong>do</strong>s sujeitos, <strong>do</strong>ta-nos de informações necessárias para<br />

compreender o mo<strong>do</strong> como ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s sujeitos actualiza, em si próprio, as<br />

informações exteriores a si 106 .<br />

O potencial explicativo e interpretativo <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem biográfica reside<br />

ain<strong>da</strong> no facto de se inscrever numa perspectiva de leitura <strong>da</strong>s toxicodependências<br />

(perspectiva fenomenológica) que concebe as práticas desviantes como resulta<strong>do</strong> de<br />

um processo de construção na interacção social. Perceber o mo<strong>do</strong> de aquisição de<br />

103 M. Molitor, ―L‘Herméneuthique Collective‖, in J. Remy e D. Ruquoy (Dir.), Méthodes d’Analyse de<br />

Contenu et Sociologie, pp. 19-53. Cit. in, J. Macha<strong>do</strong> Pais: ―Dos relatos aos conteú<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong>‖ in<br />

Ganchos, Tachos e Biscates – Jovens, trabalho e futuro, capítulo 4, Ambar, <strong>Porto</strong>, 2001.<br />

104 Guy de Villers,: ―L‘histoire de vie comme méthode clinique‖, in Penser La Formation, Cahiers de la<br />

Section des Sciences de l‘Education – Pratiques et Théorie, nº 72, Université de Genève – Faculté de<br />

Psychologie et des Sciences de l‘Education, Genève, 1993, p. 147.<br />

105 F. Ferraroti, ―Sobre la autonomia del méto<strong>do</strong> biográfico‖ in J. M. Marinas e C. Santamarina (Ed.), La<br />

Historia Oral. Méto<strong>do</strong>s y Experiencias, Debate, Madrid, 1993.<br />

106 Rui Tinoco, & Severiano <strong>Pinto</strong>: ―Abor<strong>da</strong>gem biográfica <strong>da</strong>s toxicodependências – o biograma como<br />

instrumento de intervenção clínica‖ in Toxicodependências, volume 7, nº 1, 2001, pág. 18.<br />

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