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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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desenvolver uma organização segura, ou seja, de construírem uma imagem positiva<br />

de si próprias e <strong>do</strong>s outros e de se revelarem competentes na exploração <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Experiências promotoras de vinculação segura, de uma organização interna<br />

constituí<strong>da</strong> por referências e expectativas positivas por relação às figuras de<br />

vinculação, são, pois, potencia<strong>do</strong>ras de um self que se representa a si próprio como<br />

merece<strong>do</strong>r de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, afecto e atenção.<br />

Inversamente, a experimentação de situações de confronto precoce com<br />

uma figura de vinculação que, de forma regular e sistemática, ora desenvolve<br />

comportamentos de excesso de protecção (intromissão excessiva, restringin<strong>do</strong> a<br />

descoberta autónoma <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pela criança), ora manifesta ignorância a respeito <strong>da</strong>s<br />

iniciativas <strong>da</strong> criança, não permite o desenvolvimento de formas de vinculação<br />

adequa<strong>da</strong>s. A criança fica então impossibilita<strong>da</strong> de atingir os objectivos de procura de<br />

afecto, protecção e segurança, uma vez que se confronta sucessivamente com<br />

comportamentos que lhe devolvem uma imagem de desvalorização de si própria e <strong>da</strong>s<br />

suas capaci<strong>da</strong>des para aceder a outros, através de mensagens tipo ―eu não te<br />

compreen<strong>do</strong>‖ ou ―o que tu fazes e sentes não é significativo ou relevante‖ 83 .<br />

Os modelos internos de vinculação representam matrizes de<br />

interpretação <strong>da</strong>s experiências e, como tal, não só orientam os comportamentos de<br />

vinculação, como norteiam a leitura, compreensão e interpretação <strong>da</strong>s situações,<br />

configuran<strong>do</strong> os comportamentos futuros em situações relevantes para a criação de<br />

novos laços de vinculação.<br />

Daqui decorre uma segun<strong>da</strong> afirmação relevante, empiricamente<br />

testa<strong>da</strong> 84 : que o isolamento social e a precarie<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s laços afectivos e emocionais<br />

tendem a expressar-se, quan<strong>do</strong> as crianças atingem i<strong>da</strong>des escolares, através de<br />

comportamentos de maior agressivi<strong>da</strong>de, menor capaci<strong>da</strong>de de comunicação com os<br />

outros, maiores dificul<strong>da</strong>des na resolução de problemas e dificul<strong>da</strong>des significativas no<br />

relacionamento com outras crianças.<br />

Na medi<strong>da</strong> em que a vinculação precoce configura um modelo de<br />

funcionamento interno que actua sobre o self, quer em termos <strong>do</strong> não reconhecimento<br />

83 Bowlby (1969) afirmou que, desde os primeiros tempos de vi<strong>da</strong>, e a partir <strong>da</strong>s suas experiências com as<br />

figuras de vinculação, to<strong>do</strong> o ser social vai construin<strong>do</strong> modelos internos de vinculação constituí<strong>do</strong>s por<br />

conhecimentos e expectativas sobre a figura de vinculação. Mas estas experiências repeti<strong>da</strong>s também se<br />

repercutem sobre o self, adquirin<strong>do</strong> um significa<strong>do</strong> específico em termos <strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong> valor<br />

pessoal que esse ser atribui a si próprio e à sua capaci<strong>da</strong>de de afectar a figura de vinculação.<br />

São as interacções repeti<strong>da</strong>s com as suas figuras de vinculação que permitem construir os modelos<br />

internos, na medi<strong>da</strong> em que as experiências vão sen<strong>do</strong> internamente organiza<strong>da</strong>s como representações<br />

generaliza<strong>da</strong>s sobre o self, sobre as figuras de vinculação e sobre as relações com outros.<br />

Os modelos internos constituem a base de uma tendência emocional persistente que se mantém ao longo<br />

<strong>do</strong> tempo. Ten<strong>do</strong> início nos primeiros relacionamentos que o ser social estabelece com o adulto cui<strong>da</strong><strong>do</strong>r,<br />

são resistentes à mu<strong>da</strong>nça e tendem a afectar to<strong>da</strong>s as relações íntimas futuras. Cit in Isabel Soares,<br />

―Vinculação: Questões Teóricas, Investigação e Implicações Clínicas‖ op. cit., pp. 38-40.<br />

84 Keith Oatley, e Jenniffer Jenkins,: ―Modelos de funcionamento interno <strong>da</strong> ligação afectiva‖ in<br />

Compreender as Emoções, Instituto Piaget, Lisboa, 2002, pág. 233 (Main, Kaplan e Cassidy, 1985).<br />

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