17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Isabel<br />

consumíamos… os mais velhos não nos pediam na<strong>da</strong> em troca…eram<br />

amigos…<br />

Claro que para pagar roubávamos… O álcool também roubávamos nos<br />

supermerca<strong>do</strong>s…por isso consumi sempre <strong>do</strong>s 10 até aos 14 para os 15<br />

anos, que foi quan<strong>do</strong> entrei para a Comuni<strong>da</strong>de…<br />

Nunca tive me<strong>do</strong> de roubar… sempre achei que na<strong>da</strong> me acontecia… nem<br />

sequer pensava nas consequências <strong>do</strong> meu comportamento, <strong>do</strong> que me<br />

poderia acontecer se fosse apanha<strong>do</strong>… era a vi<strong>da</strong> que tínhamos, eu e os<br />

outros…<br />

A minha mãe não sabia <strong>da</strong>s drogas mas <strong>do</strong> álcool sabia… ela nunca me<br />

proibiu de beber… ela sabia que eu bebia de vez em quan<strong>do</strong>, não sabia é<br />

que eu bebia to<strong>do</strong>s os dias… a minha mãe também bebia de vez em<br />

quan<strong>do</strong>, em festas e às vezes, mas não era alcoólica…<br />

Na zona onde residia, eu conhecia muita gente que consumia drogas e eu<br />

achava um comportamento normal… nem sequer pensava se fazia bem<br />

ou mal… era uma experiência como outra qualquer… fazia sentir bem,<br />

<strong>da</strong>va prazer…<br />

Do haxixe gostei sempre… com o álcool é que às vezes ficava um boca<strong>do</strong><br />

zonzo e ficava mal disposto… continuava sempre porque via os meus<br />

amigos a fazerem o mesmo… achava que se não fizesse como eles era<br />

menos <strong>do</strong> que eles… eu queria aquele grupo de amigos… era com eles<br />

que eu me sentia bem…<br />

Nunca vi os meus amigos a traficarem e nem sabia o que isso era…os<br />

meus comportamentos graves eu acho que nem sequer passavam pelos<br />

consumos… to<strong>do</strong>s o faziam, era normal… o que acho que eram graves<br />

eram os comportamentos delinquentes, mas na altura isso não contava<br />

para na<strong>da</strong> e eu nem <strong>da</strong>va nenhuma importância…<br />

Aos 7 anos tinha lá (no bairro onde morava) um grupo de amigos <strong>da</strong> minha<br />

i<strong>da</strong>de que eram filhos de traficantes e de consumi<strong>do</strong>res. Assim, aos 9 anos<br />

comecei a consumir haxixe com os amigos, na escola e em casa deles.<br />

Arranjávamos a droga vin<strong>da</strong> <strong>do</strong>s pais deles. Eles tiravam aos pais. Ao<br />

princípio, os pais não sabiam, mas depois começava a faltar a droga e os<br />

pais passaram a saber. Sentia-me bem. Sem preocupações. Fumava 6 a 7<br />

charros por dia. Nos intervalos <strong>da</strong>s aulas é que nos costumávamos juntar e<br />

fumávamos. O acesso às drogas era fácil, pois os amigos roubavam a<br />

droga aos pais.<br />

Mais tarde, [com 12 ou 13 anos], já éramos crescidinhos, eu e os meus<br />

amigos, e os miú<strong>do</strong>s com 7/8 anos roubavam carros, computa<strong>do</strong>res e<br />

assim, e <strong>da</strong>vam-nos a nós para vender… era dessas ven<strong>da</strong>s que conseguia<br />

o dinheiro para comprar a droga e continuar a consumir… Pensávamos que<br />

éramos os maiores… acho que fumar com os amigos era uma maneira de<br />

procurar refúgio para o que não tinha… uma família… um pai…<br />

Lembro-me de uma vez o meu irmão ter i<strong>do</strong> lá ter comigo. Ele começou a<br />

chorar muito por eu consumir, ele já tinha cerca de 17 anos e consumia<br />

outras drogas, cocaína e heroína, e até já tinha SIDA … fez-me prometer<br />

que não iria consumir outras drogas. Este acontecimento marcou-me muito.<br />

(…) Quan<strong>do</strong> eu tinha cerca de 13 anos, o meu irmão morreu com to<strong>da</strong>s as<br />

<strong>do</strong>enças possíveis e imaginárias. Aí é que foi. Foi a coisa que mais me<br />

marcou. Lembro-me de me encontrar com ele muitas vezes. Ele era um<br />

sem-abrigo e parava no Bom Sucesso e estava a ressacar e eu lembro-me<br />

que fui com ele comprar droga. E lembro-me de ir lá só para estar com<br />

ele… o facto de o ver assim não me fazia desistir… já lhe disse que ele para<br />

211

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!