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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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de um amigo. Então o senhor subiu e depois chamou a polícia. Depois a<br />

polícia levou-me para a esquadra e para um colégio e fiquei lá só uma noite<br />

e manhã. Deram-me de comer e depois a polícia levou-me à casa <strong>da</strong> minha<br />

avó e preparamos as coisas porque a polícia disse que eu vinha para um<br />

colégio, a clínica. Foi há cinco meses e dez dias.<br />

Não gostava muito <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na casa <strong>da</strong> minha avó porque aquele bairro tinha<br />

mau ambiente e uma vez a minha avó man<strong>do</strong>u-me uns dias para a Holan<strong>da</strong><br />

onde vive um tio meu, ele disse para eu ficar mas a minha avó não queria<br />

mas o meu tio não queria que eu viesse porque cá havia mau ambiente…<br />

com o meu tio eu gostava de estar… an<strong>da</strong>va a brincar, jogar playstation…<br />

não gostava <strong>da</strong> minha avó porque, às vezes, me batia e porque, às vezes<br />

me <strong>da</strong>va muitas regras e havia lá visitas e eu tinha que lavar a loiça… e ela<br />

dizia que se eu lavasse, depois, me deixava brincar… ela dizia assim: faz as<br />

coisas e depois vais para a rua… não me lembro de me <strong>da</strong>r carinhos… a<br />

minha mãe está no Algarve… já estive algumas vezes com a minha mãe…<br />

vi-a às vezes, até já fui ao Algarve, uma vez estar com ela… agora, a minha<br />

mãe está presa e já não a vejo… traficava droga e consumia haxixe… não<br />

sei porque é que a minha mãe me entregou à minha avó… a minha avó<br />

nunca me disse porquê… eu acho que não tinha dinheiro para me<br />

sustentar… o meu pai tinha dinheiro… só que ligava mais aos outros filhos<br />

que a mim… só o via uma vez por mês… ele ia uma vez por mês a casa <strong>da</strong><br />

minha avó e <strong>da</strong>va-lhe cinquenta euros para fazer compras. (…) Os meus<br />

pais viveram sempre separa<strong>do</strong>s… o meu pai teve duas mulheres… e filhos<br />

<strong>da</strong>s duas… só que o mais velho com 22 anos e uma rapariga de 16 anos são<br />

<strong>da</strong> outra mulher. Eu conheço-os, vi-os porque fui uma vez passar o Natal<br />

com eles… sentia-me melhor com a minha mãe, com a minha mãe é que eu<br />

desabafava e que ela <strong>da</strong>va mais carinho… até tive com a minha mãe uma<br />

vez no Algarve… gosto de muita gente menos <strong>do</strong> meu pai… gosto também<br />

dele mas às vezes é uma seca… tenho que ir à igreja com ele, porque às<br />

vezes sai e fico em casa, às vezes não deixa dinheiro para comer…<br />

esquece-se… ou não quer <strong>da</strong>r… como disse a si eu gosto deles to<strong>do</strong>s, pai,<br />

mãe, avó, tias, e eles sempre gostam de mim, mas quero é viver com o meu<br />

tio na Holan<strong>da</strong>…<br />

Júlia (17 anos)<br />

106<br />

Conhecemos Júlia na Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica onde residia há 10<br />

meses. Júlia foi para a comuni<strong>da</strong>de por decisão <strong>da</strong> Direcção de um colégio/lar <strong>da</strong><br />

Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia de Lisboa, lugar onde cresceu desde os três anos de<br />

i<strong>da</strong>de. Nunca viveu com os pais nem com a irmã, mais velha <strong>do</strong> que Júlia três anos.<br />

Até aos <strong>do</strong>is anos Júlia viveu com os avós, a quem foi entregue pela mãe<br />

logo que nasceu. Com <strong>do</strong>is anos passou a frequentar um primeiro colégio, lugar onde<br />

só residiam crianças pequenas <strong>da</strong> sua i<strong>da</strong>de. Aí permaneceu durante um ano. Depois<br />

transitou para outro colégio, onde esteve até vir para a Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica.<br />

Ain<strong>da</strong> que tenha conheci<strong>do</strong>, até aos <strong>do</strong>is anos, uma relação afectuosa<br />

com a sua avó, o contexto relacional em que viveu não parece ter propicia<strong>do</strong> o<br />

estabelecimento de interacções afectivas com a estabili<strong>da</strong>de necessária para que<br />

possa empreender, com segurança, as tarefas <strong>do</strong> crescimento. Como referem os<br />

teóricos desta fase inicial <strong>do</strong> desenvolvimento, tais interacções não só são

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