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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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ao uso ocasional, a menos que este descubra um novo sistema de justificação 176 . Se<br />

não for capaz de se justificar, não poderá, de mo<strong>do</strong> algum, fumar. O nível de utilização<br />

<strong>da</strong> droga parece depender <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> recusa <strong>do</strong> senso comum sobre o uso <strong>da</strong><br />

droga e <strong>da</strong> sua substituição por racionalizações e justificações correntes entre os<br />

utiliza<strong>do</strong>res.<br />

166<br />

Em resumo, um indivíduo sente-se capaz de fumar marijuana na medi<strong>da</strong><br />

em que consegue convencer-se que as concepções convencionais deste uso não são<br />

mais <strong>do</strong> que ideias de pessoas ignorantes, ideias essas que substitui pelos pontos de<br />

vista adquiri<strong>do</strong>s na companhia de outros fuma<strong>do</strong>res.<br />

Capítulo 7 – DA “DROGA-DOENÇA”, “DROGA-DELINQUÊNCIA”, “DROGA-<br />

VÍCIO” À “DROGA–PLANO DE SIGNIFICAÇÃO EXISTENCIAL‖ 177<br />

O aumento <strong>do</strong> consumo de substâncias tóxicas como o álcool e as<br />

drogas nos países economicamente mais desenvolvi<strong>do</strong>s é uma evidência que nos<br />

confronta, como mais acima assinalamos, com uma contradição surpreendente: como<br />

é que as socie<strong>da</strong>des que conhecem níveis de bem - estar sem precedentes na história<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana criaram esse fenómeno tão severamente autodestrutivo que é a<br />

dependência de substâncias psicotrópicas? O fenómeno tem convoca<strong>do</strong> a atenção de<br />

especialistas de áreas disciplinares as mais diversas, designa<strong>da</strong>mente a psicanálise, a<br />

psicologia, a psiquiatria, a sociologia. Apesar disso, é nossa convicção que falta<br />

percorrer um caminho no senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> articulação <strong>da</strong>s perspectivas teóricas<br />

176 Howard Becker, Outsiders, Études de sociologie de la deviance op.cit., pág. 101. ‖Bom, eu pergunto-me<br />

se o melhor não será de na<strong>da</strong> consumir. É o que se diz. No entanto eu ouvi alguns psiquiatras dizerem:<br />

―Consumam to<strong>da</strong> a erva que quiserem, mas não toquem na heroína‖. [Sim, isso parece-me razoável].<br />

Sim, mas quantas pessoas o podem fazer? Há muitas pessoas…eu penso que setenta por cento, ou<br />

talvez mais, pessoas que fumam que têm um tipo de comportamento que as conduz a consumirem ca<strong>da</strong><br />

vez mais erva e a evadir-se ca<strong>da</strong> vez mais <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Eu penso que comigo se passa o mesmo. Mas<br />

penso que tenho consciência disso e portanto posso lutar contra isso‖.<br />

―Bom, eu creio que as pessoas que se entregam à droga, ao álcool, à bebi<strong>da</strong>, a to<strong>do</strong>s os excitantes desta<br />

espécie, procuram provavelmente escapar a um esta<strong>do</strong> mais grave que o utiliza<strong>do</strong>r mais ou menos<br />

ocasional. Seja lá isso o que for, não tenho ideia de estar a fugir. No entanto, eu creio…<strong>do</strong>u-me conta que<br />

tenho ain<strong>da</strong> bastante a fazer para encontrar o meu equilíbrio…eu não posso dizer que eu sofro de uma<br />

nevrose grave ou de uma incapaci<strong>da</strong>de que tratarei de cui<strong>da</strong>r. Mas no caso de algumas <strong>da</strong>s minhas<br />

relações, de pessoas que são alcoólicos crónicos, ou utiliza<strong>do</strong>res de opiáceos, ou que fumam com<br />

bastante regulari<strong>da</strong>de, eu notei que estas práticas se fazem acompanhar de um certo desequilíbrio <strong>da</strong> sua<br />

personali<strong>da</strong>de‖.<br />

177 Cândi<strong>do</strong> <strong>da</strong> Agra, “Droga: Dispositivo crítico para um novo paradigma “ in Actas <strong>do</strong> Seminário «Droga:<br />

Situação e Novas Estratégias», promovi<strong>do</strong> pela Presidência <strong>da</strong> República, Centro Cultural de Belém,<br />

Lisboa, 1997.

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