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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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decifra e não decifra, ao produzir ou amontoar linguagens, deixan<strong>do</strong>-se infinita e<br />

incansavelmente atravessar por elas‖ 115 .<br />

A consciência <strong>da</strong> não neutrali<strong>da</strong>de de qualquer tipo de leitura, de que<br />

to<strong>da</strong>s as leituras são orienta<strong>da</strong>s por esquemas interpretativos 116 , é um passo essencial<br />

para a atenção e controlo constante que o investiga<strong>do</strong>r terá de exercer, em diversos<br />

momentos: na realização <strong>da</strong> entrevista, no registo de to<strong>da</strong>s as notas necessárias à<br />

reconstituição <strong>da</strong> força de um discurso feito de ritmos, repetições de frases,<br />

suspensões de palavras, mímicas, hesitações, etc.; na interpretação <strong>da</strong>s entrevistas,<br />

na explicitação <strong>da</strong>s notas e objectivação <strong>do</strong>s acontecimentos narra<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />

atribuí<strong>do</strong>s, tornan<strong>do</strong>-os inteligíveis para o leitor.<br />

Não parece, por isso, descabi<strong>do</strong> recor<strong>da</strong>r a este propósito o conceito de<br />

"dupla hermenêutica" referencia<strong>do</strong> por Giddens 117 . Com este conceito o autor pretende<br />

enfatizar a natureza duplamente interpretativa <strong>da</strong> análise social. "Os conceitos<br />

sociológicos obedecem ao que chamo de hermenêutica dupla" 118 : a) por um la<strong>do</strong>,<br />

porque o processo de produção de esquemas teóricos interpretativos é também uma<br />

activi<strong>da</strong>de prática de construção de interpretações; b) por outro la<strong>do</strong>, porque<br />

alimentam as análises sociais, reinterpretan<strong>do</strong> universos de senti<strong>do</strong> socialmente<br />

produzi<strong>do</strong>s pelos actores sociais, dentro <strong>do</strong>s seus esquemas teóricos e através de<br />

uma "linguagem comum e de uma linguagem técnica" 119 .<br />

3.7 Da selecção <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s: “amostra intencional” versus “amostra<br />

estatística”<br />

A selecção <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes foi determina<strong>da</strong> pela relevância que ca<strong>da</strong><br />

um representou por relação ao ponto no<strong>da</strong>l <strong>do</strong> que se pretende investigar: trajectórias<br />

de vi<strong>da</strong> marca<strong>da</strong>s pela iniciação precoce de consumo de drogas, significações e<br />

senti<strong>do</strong>s atribuí<strong>do</strong>s pelos a<strong>do</strong>lescentes. O número de entrevista<strong>do</strong>s não foi<br />

previamente fixa<strong>do</strong>, por não ser a representativi<strong>da</strong>de estatística o critério relevante,<br />

mas sim a sua significativi<strong>da</strong>de, como destacam as teorias e méto<strong>do</strong>s grounded.<br />

O objectivo deste tipo de meto<strong>do</strong>logias é o de construir teoria<br />

fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> acerca de um problema específico e/ou uma população específica e<br />

não o de generalizar 120 . Compreende um processo indutivo de colecção de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, no<br />

115<br />

Cit in, J. Macha<strong>do</strong> Pais : ―Dos relatos aos conteú<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong>‖ in Ganchos, Tachos e Biscates – Jovens,<br />

trabalho e futuro, capítulo 4, Ambar, <strong>Porto</strong>, 2001.<br />

116<br />

Pierre Bourdieu, op. Cit. p. 923.<br />

117<br />

A. Giddens, Novas Regras <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> Sociológico - Uma crítica positiva <strong>da</strong>s Sociologias<br />

Compreensivas, Zahar, Rio de Janeiro, 1978.<br />

118 A. Giddens, : op. cit., pág. 170.<br />

119 A.: Giddens op. Cit., pág. 171.<br />

120 Charmaz, 2006; Strauss & Corbin, 1998.<br />

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