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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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concretização <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de humana. Como o autor observa, ―nas socie<strong>da</strong>des<br />

modernas impôs-se, pouco a pouco, a ideia de que a maior parte <strong>do</strong>s problemas<br />

humanos poderia ser resolvi<strong>da</strong> graças às descobertas <strong>da</strong> biologia, aos novos meios de<br />

comunicação e a uma certa forma de democracia que se apoia mais na flutuação <strong>do</strong>s<br />

costumes <strong>do</strong> que na noção de bem comum‖ 40 .<br />

No entanto, se é ver<strong>da</strong>de que a compreensão <strong>da</strong>s estruturas biológicas<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana mantém to<strong>da</strong> a sua legitimi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> mesma maneira que o progresso<br />

técnico, o desenvolvimento económico e a própria democracia, não é menos certo que<br />

o modelo de construção social requer muito mais <strong>do</strong> que isso. Em seu entender, a<br />

resposta à questão <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de evidencia bem o impasse a que uma visão idílica <strong>do</strong><br />

progresso científico nos conduziu, privilegian<strong>do</strong> o conforto e o bem-estar, assegura<strong>do</strong>s<br />

pela socie<strong>da</strong>de de consumo, em notório detrimento <strong>do</strong>s valores morais.<br />

O que o autor quer sublinhar é que os avanços técnicos não são<br />

suficientes para honrar as expectativas profun<strong>da</strong>s <strong>do</strong> homem na sua busca <strong>da</strong><br />

felici<strong>da</strong>de e que o uso <strong>da</strong> droga decorre <strong>da</strong> diluição paulatina <strong>do</strong> papel regula<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s<br />

exigências morais nas socie<strong>da</strong>des individualistas, onde o homem fica entregue a si<br />

próprio, completamente autónomo e, acima de tu<strong>do</strong>, preocupa<strong>do</strong> com a sua inserção a<br />

nível económico.<br />

Na socie<strong>da</strong>de mercantil, onde a economia assume o papel de principal<br />

regula<strong>do</strong>r <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, assiste-se a uma profun<strong>da</strong> transformação <strong>da</strong> relação com o<br />

prazer, a <strong>do</strong>r e o consumo. É por isso que o uso exponencial <strong>da</strong>s drogas coloca três<br />

questões que se articulam em planos diversos: o psicológico, o moral e o educativo.<br />

Numa reflexão estimulante acerca <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>s educativas que hoje<br />

prevalecem nas socie<strong>da</strong>des mais ricas, Tony Anatrella 41 , um psicanalista que não<br />

hesita em recorrer a um olhar ver<strong>da</strong>deiramente sociológico, sublinha o papel <strong>do</strong>s<br />

processos de individualização exacerba<strong>da</strong> que estão em marcha nas socie<strong>da</strong>des<br />

modernas. O enfraquecimento <strong>do</strong>s laços sociais, em praticamente to<strong>do</strong>s os campos e<br />

contextos de interacção, é um fenómeno com contornos perigosos no que respeita à<br />

compreensão e aprendizagem <strong>do</strong> exercício <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de humana. O senti<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

independência e autonomia individual tende, ca<strong>da</strong> vez mais, a ser equipara<strong>do</strong> à<br />

isenção de to<strong>da</strong> e qualquer obrigação para com a socie<strong>da</strong>de. O enfraquecimento <strong>do</strong><br />

laço social toma uma plurali<strong>da</strong>de de manifestações que vão desde o desvanecimento<br />

<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s valores morais comuns, ao enfraquecimento <strong>do</strong>s laços de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, e, muito importante, até à recusa <strong>do</strong> compromisso e à falta de exigência<br />

<strong>do</strong>s adultos na educação <strong>da</strong>s crianças.<br />

40 Tony Anatrella, Liber<strong>da</strong>de Destruí<strong>da</strong>, op. cit. p. 22<br />

41 Tony Anatrella, Liber<strong>da</strong>de Destruí<strong>da</strong>,op. cit. p. 24<br />

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