17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

consideravelmente sob o impulso <strong>do</strong> incessante movimento de reestruturação <strong>da</strong>s<br />

empresas. Em suma, as novas formas de produção em rede, assim como as políticas<br />

de flexibilização <strong>da</strong> mão - de - obra engendraram um profun<strong>do</strong> mal estar entre os<br />

assalaria<strong>do</strong>s. Essa mu<strong>da</strong>nça profun<strong>da</strong> <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de organizar a produção, tal como a<br />

analisou Richard Sennett, corre o risco de gerar a desqualificação social progressiva<br />

<strong>do</strong>s assalaria<strong>do</strong>s. O compromisso <strong>do</strong> pós-guerra que tinha permiti<strong>do</strong> ampliar a<br />

assistência e conciliar eficácia económica e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de social foi abala<strong>do</strong>. Desde<br />

logo, a noção de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de orgânica parece bastante problemática. Como<br />

conceber a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de num mun<strong>do</strong> económico que empurra os mais vulneráveis<br />

para a inactivi<strong>da</strong>de ou para a precarie<strong>da</strong>de institucionaliza<strong>da</strong> 223 ?<br />

225<br />

A ruptura <strong>do</strong> laço de participação orgânica gera<strong>da</strong> pela cessação<br />

constrangi<strong>da</strong> <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de profissional não se traduz apenas por um enfraquecimento<br />

<strong>do</strong> nível de vi<strong>da</strong>, mas, também, pela desqualificação social <strong>do</strong>s indivíduos por ela<br />

atingi<strong>do</strong>s. Ser constrangi<strong>do</strong> a solicitar os serviços de acção social para obter com que<br />

viver altera frequentemente a identi<strong>da</strong>de e afecta o conjunto <strong>da</strong>s relações com os<br />

outros. Experimentar o sentimento de estar a cargo <strong>da</strong> colectivi<strong>da</strong>de equivale a<br />

pertencer a uma categoria socialmente desvaloriza<strong>da</strong>, sem digni<strong>da</strong>de no duplo senti<strong>do</strong><br />

de honra e de consideração.<br />

O mesmo pode ocorrer com aqueles que não podem reconhecer-se no<br />

seu trabalho seja pela desconsideração social que lhe é atribuí<strong>da</strong>, seja porque podem<br />

ser facilmente dispensa<strong>do</strong>s. Para os assalaria<strong>do</strong>s que se encontram próximos <strong>da</strong><br />

integração incerta, a impossibili<strong>da</strong>de de estabilizar a sua situação profissional equivale<br />

à privação de um futuro. Para os assalaria<strong>do</strong>s próximos <strong>da</strong> integração laboriosa, o<br />

sofrimento no trabalho resulta <strong>da</strong> fraca consideração pelo que são e pelo que<br />

transportam para a empresa. Enfim, para os assalaria<strong>do</strong>s próximos <strong>da</strong> integração<br />

desqualificante, a execução de um trabalho sem alma e o futuro incerto são fonte de<br />

desespero e de humilhação. A desqualificação social <strong>do</strong>s assalaria<strong>do</strong>s começa, pois, a<br />

partir <strong>do</strong> momento em que são manti<strong>do</strong>s numa situação que os priva de to<strong>da</strong>, ou parte,<br />

<strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de que geralmente se atribui aqueles que contribuem, pelos seus esforços,<br />

para a activi<strong>da</strong>de produtiva necessária ao bem - estar <strong>da</strong> colectivi<strong>da</strong>de: um meio de<br />

expressão de si, um benefício decente, uma activi<strong>da</strong>de reconheci<strong>da</strong>, uma segurança.<br />

223 Serge Paugam, Le Lien Social, op. cit., pág. 82.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!