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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> interacção com a figura de vinculação, no senti<strong>do</strong> em que<br />

esta é mais ou menos sensível às iniciativas <strong>da</strong> criança, mais ou menos capaz de<br />

compreender os sentimentos que estão subjacentes ao contacto requeri<strong>do</strong>, é<br />

entendi<strong>da</strong> como determinante na experimentação de sentimentos de<br />

segurança/insegurança, conforto/desconforto. Como analisar a quali<strong>da</strong>de desta<br />

interacção? Quais as variáveis pertinentes para tornar exequível essa análise?<br />

As investigações que, desde a déca<strong>da</strong> de 50, foram desenvolvi<strong>da</strong>s por<br />

este autor permitiram identificar o tipo de experiências que mais seriamente podem<br />

conduzir a uma vinculação insegura 78 . Situações de isolamento social, tal como, por<br />

exemplo, ser cria<strong>do</strong> em orfanatos, onde os contactos físicos são esporádicos,<br />

limitan<strong>do</strong>-se a situações como a troca <strong>da</strong> fral<strong>da</strong>, e as trocas sociais quase inexistentes<br />

induzem um fraco desenvolvimento social, mesmo que a alimentação e os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

de higiene sejam assegura<strong>do</strong>s com eficiência. Os bebés cria<strong>do</strong>s em tais condições<br />

tendem a evidenciar insaciáveis exigências de atenção e amor individualiza<strong>do</strong>,<br />

acaban<strong>do</strong>, na sua maioria, por se tornarem crianças apáticas e fugidias <strong>do</strong>s adultos.<br />

Os diversos autores que reflectem sobre os problemas <strong>da</strong> vinculação<br />

admitem que, quer no <strong>do</strong>mínio social, quer no <strong>do</strong>mínio emocional, é possível identificar<br />

consequências a longo prazo: comportamentos de delinquência, agressivi<strong>da</strong>de e<br />

indiferença relativamente aos outros; grandes dificul<strong>da</strong>des no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> linguagem e<br />

<strong>do</strong> raciocínio abstracto com implicações negativas no desenvolvimento cognitivo.<br />

De resto, também alguns estu<strong>do</strong>s que abor<strong>da</strong>ram os comportamentos<br />

anti-sociais e a iniciação ao consumo de drogas segun<strong>do</strong> uma orientação<br />

psicanalítica 79 vêm reforçar a ideia de que a privação afectiva, a carência de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

parentais, podem ser considera<strong>do</strong>s factores decisivos na predisposição <strong>do</strong>s indivíduos<br />

para o consumo de substâncias psicoactivas. Esses estu<strong>do</strong>s salientam que a relação<br />

precoce de vinculação pode ser seriamente afecta<strong>da</strong> em duas situações, igualmente<br />

perniciosas: carência na ligação precoce mãe-criança, devi<strong>do</strong> à falta de ajustamento<br />

<strong>da</strong> primeira às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> criança; excesso de ajustamento ansioso <strong>da</strong> mãe à<br />

criança, o que, não raro, expressa a incapaci<strong>da</strong>de desta em investir a criança como<br />

um objecto real, distinto de si própria e <strong>da</strong>s suas projecções imaginárias.<br />

Poderá, então, concluir-se que a precarie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> vínculo objectal<br />

precoce, que pode comprometer a constituição de bases narcísicas estáveis, tanto<br />

pode decorrer <strong>da</strong> privação <strong>do</strong>s sinais de amor como <strong>do</strong> excesso desses sinais. O<br />

conhecimento <strong>do</strong>s constrangimentos ao processo de investimento <strong>do</strong> sujeito em si<br />

próprio, dificultan<strong>do</strong> a realização de um processo diferencia<strong>do</strong>r em relação ao objecto<br />

78 René Zazzo: ―A Vinculação – Uma nova Teoria sobre a origem <strong>da</strong> afectivi<strong>da</strong>de‖ in D. Anzieu, J. Bowlby<br />

et all A Vinculação- “Attachement”, Socicultur, Lisboa, 1974.<br />

79 Winnicott, 1956:, in Manuela Fleming, Família e Toxicodependência, op. cit., pág. 57.<br />

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