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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Também é difícil partilhar sentimentos e pedir aju<strong>da</strong>… porque pensar<br />

sobre o nosso passa<strong>do</strong> dói… eu não percebo como querem que seja…<br />

primeiro, man<strong>da</strong>vam-me controlar-me, ser mais calmo… e agora, dizemme<br />

para ser mais impulsivo… não percebo! É difícil para mim levar os<br />

outros a cumprirem e a aceitarem as minhas directrizes… tenho me<strong>do</strong>…<br />

tenho me<strong>do</strong> que não me aceitem… tenho me<strong>do</strong> que não gostem de<br />

mim…que me não faça respeitar… tenho me<strong>do</strong> de activar o meu sistema<br />

nervoso como antigamente se eles não me aceitarem… mas acho que<br />

hoje já sou capaz de controlar a revolta… acho que ain<strong>da</strong> nunca fui capaz<br />

de falar assim tão claro! (…) Mesmo se ain<strong>da</strong> é um pouco difícil falar de<br />

algumas situações <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>… a minha mãe, não lhe quero mal…<br />

não lhe quero mesmo mal… quero que tenha a vi<strong>da</strong> dela e já per<strong>do</strong>ei…<br />

hoje já me sinto outro… sinto-me bem… antigamente não falava com<br />

ninguém… não era capaz… hoje é diferente… sinto que ca<strong>da</strong> vez que falo<br />

me faz bem… às vezes a minha maneira de falar mu<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> falo<br />

desses assuntos, como o <strong>do</strong> meu monitor… ain<strong>da</strong> hoje, eu sei… (mu<strong>do</strong>u o<br />

tom de voz, deixou de olhar de frente para o interlocutor e ficou a olhar<br />

para o chão, encolhen<strong>do</strong> o corpo)<br />

…o que eu gostava era de ir ao colégio e dizer tu<strong>do</strong> o que penso e que<br />

sinto ao meu monitor… falar de tu<strong>do</strong> o que se passou, mas mostrar-lhe<br />

como estou diferente… também gostava de ir aos cursos onde andei e<br />

que aban<strong>do</strong>nei… ir mostrar a to<strong>do</strong>s, colegas e amigos, professores, como<br />

estou diferente… queria que vissem como hoje sou uma pessoa com autoconfiança...<br />

queria que vissem como sei falar de tu<strong>do</strong>, de to<strong>do</strong>s os<br />

problemas, como controlo os meus sentimentos e os meus<br />

comportamentos… gostava mesmo… gostava muito que as minhas irmãs<br />

me vissem agora…é importante que mudem a imagem que fizeram de<br />

mim… quero que vejam que podem acreditar em mim… que confiem em<br />

mim… eu gostava era de viver com as minhas irmãs… se elas não<br />

quiserem? Se elas não quiserem acho que vou aceitar… acho que sou<br />

capaz de aceitar que não tenham as mesmas ideias <strong>do</strong> que eu… há<br />

muitos problemas porque as pessoas não sabem aceitar que os outros<br />

possam ter ideias diferentes… eu acho que isso já compreendi e que sou<br />

capaz de li<strong>da</strong>r com os sentimentos se as minhas irmãs não quiserem viver<br />

comigo…<br />

Sobre o meu futuro… já pensei nisso, talvez venha a ficar no <strong>Porto</strong>…<br />

talvez a viver numa casa, com algum <strong>do</strong>s meus amigos positivos, algum<br />

ex-residente … para um colégio não quero voltar… mas também já não<br />

tenho i<strong>da</strong>de para ir para colégios… quero viver numa casa… talvez com<br />

outros companheiros…<br />

Os professores ficam às vezes surpreendi<strong>do</strong>s comigo aqui nas aulas… às<br />

vezes parece que não ouço, que estou vira<strong>do</strong> para dentro, mas não, estou<br />

a ouvir e a pensar, a pensar em tu<strong>do</strong>… eu penso em tu<strong>do</strong>… sinto-me<br />

muito mais auto-confiante… falta-me pouco… eles têm de acreditar em<br />

mim… não sei se vou continuar a estu<strong>da</strong>r… o que eu queria mesmo era<br />

ter um trabalho…começar uma vi<strong>da</strong> nova… sim, eu ain<strong>da</strong> ajo muito em<br />

sentimentos e nessas alturas só me apetece partir tu<strong>do</strong>… an<strong>da</strong>r à<br />

porra<strong>da</strong>… dá-me raiva… porque eu cresci revolta<strong>do</strong>… mas já estou muito<br />

melhor… é ver<strong>da</strong>de, ain<strong>da</strong> tenho esses comportamentos… viu na sala de<br />

aula, pois, atirar-me para o chão… não respeitar o professor… não fazer<br />

os trabalhos… talvez isso, sou teimoso mas nem sempre sou para as<br />

coisas que devem ser… quero ir-me embora mas sei que pode ser mau…<br />

tenho me<strong>do</strong> <strong>do</strong> que vai ser lá fora…<br />

280<br />

Faz, pois, to<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> reflectir sobre o funcionamento <strong>da</strong> Clínica <strong>do</strong><br />

Outeiro no que respeita ao tratamento <strong>do</strong>s reais problemas que impedem os jovens de

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