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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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consegue <strong>do</strong>minar? Não será essa prática a única oportuni<strong>da</strong>de de experimentar um<br />

sentimento de poder de outra maneira inacessível? No caso destes jovens, droga e<br />

delinquência serão apenas duas manifestações de uma imbrica<strong>da</strong> constelação de<br />

factores, to<strong>do</strong>s eles concorren<strong>do</strong> para a inviabilização <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des de crescer<br />

como ser individual e social?<br />

Amélia<br />

―Fiz o 8º ano, mas cheguei a frequentar o 9º ano. Eu ia à escola. Não me<br />

<strong>da</strong>va era com outras pessoas. Com colegas e professores. Mas tinha notas e<br />

comportamentos bons… quero dizer, ia passan<strong>do</strong>, embora tivesse reprova<strong>do</strong><br />

algumas vezes, por faltas… mas nesse tempo ain<strong>da</strong> ia à escola, embora não<br />

me sentisse lá bem… não sei bem explicar, mas acho que me sentia<br />

humilha<strong>da</strong>, sofri<strong>da</strong>… e não percebia para que me servia o que para lá se<br />

dizia…a vi<strong>da</strong> que eu tinha com o meu pai dispensava bem a escola, percebe?<br />

Lembra-se de eu ter dito que eu roubava para ele nos supermerca<strong>do</strong>s, e<br />

quan<strong>do</strong> ele ficava nas obras eu ia sempre ter com ele… até um dia… Não me<br />

lembro sequer de alguma vez falar com o meu pai sobre se a escola era ou<br />

não importante… na altura também não pensava nisso… sabia que não<br />

queria levar uma vi<strong>da</strong> de vazio mas acho que não era a escola que o pudesse<br />

preencher… Aos catorze anos já não ia à escola, já tinha mesmo<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>. Foi então que lá [no colégio] elas meteram-me na escola. Já<br />

estava a fazer o 9º ano. Quan<strong>do</strong> me deram o passe para eu ir à escola, em<br />

vez de ir à escola, eu ia para Valongo ter com os meus amigos. Nunca dei<br />

grande valor à escola para a minha vi<strong>da</strong>… mas também não me lembro de<br />

alguém ter fala<strong>do</strong> comigo sobre isso…no colégio podiam insistir para eu ir …<br />

mas acho que, na altura, nem percebia se era ou não importante para a<br />

vi<strong>da</strong>… ‖.<br />

Daniela<br />

Isabel<br />

―Foi com a i<strong>da</strong>de de 8 anos que a minha avó me matriculou a primeira vez na<br />

escola… Eu no princípio não ia à escola. Depois ia, mas não ia às aulas. Às<br />

vezes apetecia-me fugir mas para onde… é que não sabia (…) Cheguei a<br />

an<strong>da</strong>r na escola. Mas eu só fiz o 5º ano… era um tempo de conhecer regras<br />

e a imposição de limites… já não era para mim… nessa altura já eu tinha<br />

começa<strong>do</strong> a fazer vi<strong>da</strong> de roubos e de falta de regras… tinha o meu grupo…<br />

não só comecei a faltar à escola como comecei a roubar, consumir drogas…<br />

nunca ninguém se preocupou se eu ia ou não à escola… só a minha avó<br />

pensou nisso, mas a minha avó também já não tinha mão em mim e então<br />

quan<strong>do</strong> começaram os consumos, então é que, adeus escola… não<br />

aguentava estar lá, não ouvia na<strong>da</strong> <strong>do</strong> que os professores diziam, não queria<br />

saber <strong>da</strong>quilo para na<strong>da</strong>… só queria an<strong>da</strong>r era com amigos e na<br />

rua…qualquer coisa que eu pudesse pensar para a vi<strong>da</strong> não passava pela<br />

escola… era assim que eu via…<br />

―Quan<strong>do</strong> entrei para a escola tinha sete anos. Na escola era péssima, não me<br />

importava com isso. Faltava à escola e tinha faltas disciplinares. Muitas<br />

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