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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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130<br />

Para pensar e conceber situações de comunicação emocional<br />

significativas e inova<strong>do</strong>ras capazes de desencadear rupturas no modelo de<br />

organização interna e a elaboração de modelos alternativos de pensar, sentir e agir é<br />

indispensável partir de uma teoria <strong>da</strong> socialização que tome as questões <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça<br />

<strong>do</strong> habitus como objecto privilegia<strong>do</strong> de análise.<br />

Dizem Peter Berger e Luckmann 153 que a reelaboração <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

interioriza<strong>da</strong> na infância é, além de <strong>do</strong>loroso, um processo que só pode ocorrer desde<br />

que inseri<strong>do</strong> numa estrutura de plausibili<strong>da</strong>de, um aparelho de conversa, que o mesmo<br />

é dizer, um contexto relacional permanente e estrutura<strong>do</strong> que ofereça ao indivíduo o<br />

contacto com uma outra forma de pensar e dizer a reali<strong>da</strong>de. Além disso, dizem estes<br />

autores, o sucesso desta reaprendizagem, que envolve ruptura com a reali<strong>da</strong>de<br />

passa<strong>da</strong>, implica condições emocionais e afectivas bastante próximas <strong>da</strong>s que<br />

supostamente existem nas relações familiares. Dito noutros termos, a reelaboração <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de pressupõe o estabelecimento de relações intensas, de implicação e<br />

envolvimento afectivo, trocas verbais constantes e sistemáticas sobre os<br />

acontecimentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> quotidiana, inclusive os mais triviais, obriga, enfim, a que se<br />

faça um investimento forte na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relações humanas, na personalização <strong>do</strong>s<br />

indivíduos, na reflexão sobre os factos e acontecimentos <strong>da</strong> existência.<br />

Ora, voltan<strong>do</strong> ao tema central deste ponto, o de questionar os termos em<br />

que as instituições acolhem menores retira<strong>do</strong>s <strong>da</strong> família, já se vê que um bom fio<br />

condutor <strong>da</strong> reflexão obrigatoriamente remeterá para a quali<strong>da</strong>de técnica e humana<br />

<strong>da</strong>s equipas a quem competem os objectivos enuncia<strong>do</strong>s na lei de protecção de<br />

menores.<br />

Uma evidência de que este assunto não colhe a atenção e investimento<br />

coerentes e consistentes é, desde logo, a atribuição <strong>do</strong> trabalho directo com os<br />

menores a monitores sem formação minimamente compatível com a dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

tarefas a levar a cabo. O miserabilismo <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s de política social é inquestionável<br />

se tivermos em consideração a exigente missão que é formar pessoal, social e<br />

escolarmente crianças e a<strong>do</strong>lescentes com problemas tão complexos.<br />

Como pode um monitor recruta<strong>do</strong> entre os interna<strong>do</strong>s que, em face <strong>do</strong><br />

aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s, sem probabili<strong>da</strong>des de aceder a um posto qualifica<strong>do</strong> no<br />

merca<strong>do</strong> de trabalho, abdica de uma vi<strong>da</strong> pessoal e passa a viver na própria<br />

instituição, sem qualquer perspectiva de valorização profissional, com um salário mais<br />

<strong>do</strong> que exíguo, ser um importante agente de transformação <strong>da</strong> relação com a escola,<br />

com o saber e com as expectativas profissionais? Como pode um adulto, ele próprio<br />

153 Peter Berger e Thomas Luckmann, A construção social <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, op.cit.,, pag. 202

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