17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

170<br />

Até que ponto as ideologias sobre o que é educar e as restrições <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

quotidiana se imiscuem com os afectos, conferin<strong>do</strong>-lhes um lugar e uma expressão<br />

adequa<strong>do</strong>s?<br />

A necessi<strong>da</strong>de de se estabelecerem limites, de organizar e orientar a vi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> criança é amplamente reconheci<strong>da</strong> no campo disciplinar <strong>da</strong> psicologia. To<strong>da</strong>via,<br />

quanto às formas de ir de encontro de tais necessi<strong>da</strong>des, o consenso é bastante mais<br />

frágil. Há quem pense que as abor<strong>da</strong>gens que privilegiam a explicação <strong>do</strong> «porquê»<br />

<strong>da</strong>s coisas constituem o melhor caminho para a interiorização <strong>do</strong>s limites. Há quem<br />

veja na imposição de padrões de disciplina muito severos, mesmo para crianças<br />

pequenas, com ênfase na disciplina, na organização e no respeito a via mais eficaz<br />

para que a criança tome consciência <strong>do</strong>s limites que não podem ser ultrapassa<strong>do</strong>s,<br />

sacrifican<strong>do</strong> os seus desejos 180 .<br />

Não deixa de ser interessante observar como estes temas continuam a<br />

ser debati<strong>do</strong>s cinquenta anos volvi<strong>do</strong>s sobre as primeiras polémicas em torno <strong>da</strong><br />

oposição entre teorias educativas mais estrutura<strong>da</strong>s e mais flexíveis. Mas, como<br />

sugerem T. Berry Brazelton e Stanley Greenspan só é possível responder cabalmente<br />

a esta questão se compreendermos o mo<strong>do</strong> como as crianças aprendem. Dizem estes<br />

autores, aliás, em perfeita consonância com Bowlby, que to<strong>da</strong> a aprendizagem,<br />

mesmo a <strong>do</strong>s limites e <strong>da</strong> organização, começa com o carinho. É a partir <strong>da</strong>í que as<br />

crianças aprendem a confiar, a sentir calor humano, intimi<strong>da</strong>de, empatia e afeição<br />

pelas pessoas que as rodeiam.<br />

Os limites e a organização começam com o afecto, uma vez que a parte<br />

mais decisiva <strong>da</strong> tarefa de ensinar as crianças a interiorizarem os limites é alicerça<strong>da</strong><br />

no desejo que a criança tem de agra<strong>da</strong>r aos adultos que fazem parte <strong>do</strong> seu mun<strong>do</strong>.<br />

Seja porque amam as pessoas que cui<strong>da</strong>m delas e querem a sua aprovação e o seu<br />

respeito, seja porque têm me<strong>do</strong> <strong>do</strong>s adultos, as crianças aprendem a modelar as suas<br />

atitudes a partir <strong>da</strong>s atitudes de quem está com elas. ―A moral desenvolve-se a partir<br />

<strong>da</strong> tentativa de querer ser como um adulto admira<strong>do</strong>‖ 181 .<br />

As crianças que limitam as suas agressões e «mau comportamento»<br />

exclusivamente por me<strong>do</strong>, estão mais predispostas a comportarem-se bem em<br />

situações em que está presente uma figura com autori<strong>da</strong>de, porque é ela quem aplica<br />

o castigo. Quan<strong>do</strong> atinge níveis excessivos, o me<strong>do</strong> pode provocar ansie<strong>da</strong>de e<br />

inibição e chegar ao ponto de tornar impossível a expressão de formas saudáveis de<br />

assertivi<strong>da</strong>de. À medi<strong>da</strong> que vão crescen<strong>do</strong>, as crianças que foram disciplina<strong>da</strong>s<br />

180<br />

T. Berry Brazelton e Stanley I. Greenspan: A Criança e o seu Mun<strong>do</strong>, requisitos essenciais para o<br />

crescimento e aprendizagem, op.cit, pág. 187.<br />

181<br />

T. Berry Brazelton e Stanley I. Greenspan: A Criança e o seu Mun<strong>do</strong>, requisitos essenciais para o<br />

crescimento e aprendizagem, op. cit., pág. 189.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!