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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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crença optimista nas virtuali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> regresso ao merca<strong>do</strong>, enquanto regula<strong>do</strong>r único<br />

de to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> social.<br />

Seguin<strong>do</strong> as análises de diversos autores 1 , o fenómeno designa<strong>do</strong> por<br />

globalização é um fenómeno muito violento, designa<strong>da</strong>mente pela destruição, em<br />

massa, de estruturas que haviam assegura<strong>do</strong> a criação de laços sociais<br />

ver<strong>da</strong>deiramente protectores de derrapagens para trajectos de privação aos níveis<br />

material, social, e simbólico. A competitivi<strong>da</strong>de e os lucros <strong>da</strong>s empresas deixaram de<br />

ser compatíveis com o emprego, com a luta pela supressão <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, enfim,<br />

deixou de ser possível compatibilizar enriquecimento e coesão social.<br />

Além <strong>da</strong>s incertezas gera<strong>da</strong>s pela exclusão de milhões de indivíduos <strong>da</strong><br />

participação nas activi<strong>da</strong>des de produção <strong>da</strong> riqueza colectiva, as modificações<br />

decorrentes <strong>da</strong> economia global acarretaram a falência <strong>da</strong>s representações coerentes<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social e <strong>do</strong> trabalho, assim como <strong>da</strong> participação cívica e <strong>do</strong>s projectos<br />

pessoais 2 .<br />

Uma <strong>da</strong>s desregulamentações mais contundentes é a que decorre <strong>da</strong><br />

liberalização <strong>da</strong>s transacções financeiras, permitin<strong>do</strong> que o capital fosse investi<strong>do</strong> em<br />

qualquer parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, independentemente <strong>da</strong> sua proveniência. O movimento<br />

especulativo, que assim foi gera<strong>do</strong>, deu lugar a uma rede financeira global ca<strong>da</strong> vez<br />

mais complexa e mais difícil de controlar, com efeitos de grande peso no desempenho<br />

e destinos <strong>da</strong>s economias nacionais. A pressão <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res financeiros,<br />

aposta<strong>do</strong>s em criar capital a partir <strong>do</strong> capital e em aumentar o seu valor nominal<br />

exponencialmente, sobre as activi<strong>da</strong>des propriamente produtivas impõe que as<br />

empresas se entreguem a uma busca contínua de aumentos de produtivi<strong>da</strong>de, sempre<br />

à custa <strong>do</strong> factor trabalho.<br />

A internacionalização <strong>da</strong> produção, um processo que foi<br />

extraordinariamente acelera<strong>do</strong> durante a déca<strong>da</strong> de noventa, tem si<strong>do</strong> acompanha<strong>da</strong><br />

de efeitos devasta<strong>do</strong>res no que respeita à oferta de emprego, à qualificação <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res, à sua organização colectiva e, até, no que toca às identi<strong>da</strong>des<br />

profissionais. Mais concretamente, a organização <strong>do</strong>s sectores produtivos em redes de<br />

empresas espalha<strong>da</strong>s pelo mun<strong>do</strong> tem si<strong>do</strong> um meio eficaz para obter trabalho, lá<br />

onde ele é mais barato, tiran<strong>do</strong> parti<strong>do</strong> de sistemas políticos não democráticos, que<br />

1 Cfr. Manuel Castells, The Network Society, Backwell, Oxford, 1997; Richard Sennett, A Corrosão <strong>do</strong><br />

Carácter, Terramar, Lisboa, 2001; Jean Paul Fitoussi e Pierre Rosanvallon, A Nova Era <strong>da</strong>s<br />

Desigual<strong>da</strong>des, Celta, Oeiras, 1997.<br />

2 Richard Sennett, A corrosão <strong>do</strong> carácter. As consequências pessoais <strong>do</strong> trabalho no novo capitalismo,<br />

Terramar, Lisboa, 2001.<br />

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