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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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comunicação que despertem as crianças para a compreensão e valorização de formas<br />

culturais distintas <strong>da</strong>s que her<strong>da</strong>ram no seio <strong>da</strong> família?<br />

137<br />

Remeter o acompanhamento diário <strong>da</strong>s crianças para os profissionais<br />

menos qualifica<strong>do</strong>s, sem cui<strong>da</strong>r de apostar na sua formação contínua e na sua<br />

valorização, é entregar o trabalho mais complexo a quem não o pode fazer. Esta é,<br />

entre outras, uma maneira de condenar as crianças à perpetuação <strong>da</strong> exclusão social.<br />

Mas para compreendermos porque é que os lares de acolhimento<br />

dificilmente conseguem, e dificilmente conseguirão, interromper o ciclo vicioso de<br />

reprodução <strong>da</strong> exclusão social é preciso olhar para outras dimensões <strong>do</strong> problema.<br />

Serão as instituições a quem não é exigi<strong>da</strong> a elaboração anual de um<br />

projecto educativo, segun<strong>do</strong> critérios objectivos defini<strong>do</strong>s pela tutela e, além disso,<br />

cujo desempenho não é rigorosamente avalia<strong>do</strong>, capazes de promover a formação<br />

pessoal, escolar e social <strong>da</strong>s crianças?<br />

Não seria obrigação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, que, em nome <strong>da</strong> defesa <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s<br />

crianças, impõe a sua retira<strong>da</strong> de um meio familiar considera<strong>do</strong> incapaz, definir as<br />

dimensões que devem fazer parte <strong>do</strong> projecto educativo? Ou o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> projecto<br />

educativo é matéria que não pode ser objectiva<strong>da</strong> e deve ficar sujeita ao critério<br />

subjectivo de ca<strong>da</strong> um?<br />

Não deveria a exigência de um projecto educativo em to<strong>da</strong>s estas<br />

instituições ser a condição essencial de que decorreria a possibili<strong>da</strong>de de obter o<br />

financiamento público?<br />

O observa<strong>do</strong>r, com alguma formação teórica ou apenas com<br />

sensibili<strong>da</strong>de, aperceber-se-á rapi<strong>da</strong>mente que a cultura instala<strong>da</strong> nestas instituições<br />

perpetua nas crianças a mesma incapaci<strong>da</strong>de de se projectar no tempo, a mesma<br />

impossibili<strong>da</strong>de de resistir à frustração, a mesma compulsão para procurar satisfações<br />

imediatas, os mesmos comportamentos agi<strong>do</strong>s pela impossibili<strong>da</strong>de de elaborar e<br />

comunicar as emoções, a mesma incapaci<strong>da</strong>de de <strong>do</strong>minar o quotidiano, a mesma<br />

tendência para se valorizar à custa <strong>da</strong> inferiorização <strong>do</strong> mais fraco, afinal, traços bem<br />

característicos <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> pobreza que receberam em casa.<br />

A experiência profissional, durante um perío<strong>do</strong> que já se pode considerar<br />

longo, leva-nos a pensar que não é exagero concluir que não existem nestas<br />

instituições projectos educativos ver<strong>da</strong>deiramente merece<strong>do</strong>res desse nome.<br />

Projectos que terão que ser construí<strong>do</strong>s a partir de diagnósticos rigorosos <strong>da</strong> situação<br />

real de ca<strong>da</strong> criança, em vez <strong>da</strong>s actuações avulsas e rotineiras concebi<strong>da</strong>s para<br />

crianças inexistentes.<br />

O projecto educativo deve integrar respostas consistentes aos seguintes<br />

problemas: desafeição pelo estu<strong>do</strong> e pela escola; implicações <strong>da</strong> segregação social ou

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