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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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psicologia que quan<strong>do</strong> a fusão perdura para além desse primeiro estádio, se<br />

estruturam relações simbióticas entre selfs que acabam por levar à indiferenciação e<br />

«morte» <strong>do</strong> próprio 63 . Mais uma vez nos surge uma questão que nos acompanha<br />

desde o início – ora, os a<strong>do</strong>lescentes que estu<strong>da</strong>mos estão nas antípo<strong>da</strong>s deste tipo<br />

de experiência fusional, logo desde o início <strong>da</strong>s suas vi<strong>da</strong>s; existirão, então, diferentes<br />

vias para o vazio e para ―a morte‖ <strong>do</strong>s sujeitos?<br />

Um outro contexto relacional que pode comprometer o caminho para a<br />

autonomia <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente é o que remete para a existência de um padrão de<br />

relacionamento conheci<strong>do</strong> como triangulação. Trata-se de uma situação em que, na<br />

maior parte <strong>da</strong>s vezes, um <strong>do</strong>s progenitores está alia<strong>do</strong> ao filho a<strong>do</strong>lescente, com este<br />

constituin<strong>do</strong> uma coligação contra o outro progenitor. Acontece quan<strong>do</strong> a tensão entre<br />

os pais atinge um nível tal de desconforto, a ponto de ser necessário recorrer a um<br />

filho a fim de reduzir esta tensão para níveis mais toleráveis. Sob a pressão de ter que<br />

desempenhar funções para conservar o equilíbrio familiar, o a<strong>do</strong>lescente descura a<br />

sua individuação.<br />

Também a fraqueza ou a inexistência de alianças entre as figuras<br />

parentais são factores de grande perturbação <strong>da</strong>s tarefas <strong>da</strong> a<strong>do</strong>lescência, parecen<strong>do</strong><br />

haver alguma evidência empírica de que as famílias perturba<strong>da</strong>s são marca<strong>da</strong>s pela<br />

preponderância de coligações pais-filho e uma correspondente coligação parental<br />

fraca, bem como por uma relação marital conflituosa 64 .<br />

A este nível, é possível encontrar alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s relativamente dispersos,<br />

por vezes, sem grande coerência entre si. Por exemplo, Manuela Fleming diz que,<br />

independentemente <strong>da</strong> sua i<strong>da</strong>de, o toxicodependente tende a viver com os seus pais<br />

e a maioria conserva laços estreitos com a sua família de origem. Acrescenta, mesmo,<br />

que, segun<strong>do</strong> alguns autores, 65 a dependência psicológica <strong>da</strong> família de origem é<br />

prévia à dependência <strong>da</strong>s drogas: «Qualquer que seja a i<strong>da</strong>de e o facto de o<br />

toxicómano viver ou não com a família de origem, as condutas toxicómanas estão em<br />

relação directa com a dinâmica familiar e com a alternativa <strong>da</strong> separação e <strong>da</strong><br />

individuação».<br />

A observação realiza<strong>da</strong> junto <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes cujas vi<strong>da</strong>s aqui estamos<br />

a analisar mostra que esta conclusão é, no mínimo, relativa. Faltaria saber se existe<br />

63 Manuela Fleming, Família e Toxicodependência, op.cit., pág. 44. ―Não raro, encontramos a<strong>do</strong>lescentes<br />

que nos dizem: «eu e a minha mãe somos uma só pessoa» ou «quan<strong>do</strong> ela chora eu choro, quan<strong>do</strong> ela ri<br />

eu rio, somos muito uni<strong>do</strong>s», denuncian<strong>do</strong> uma relação fusional <strong>da</strong> qual não têm consciência, <strong>da</strong> qual<br />

tiram «vantagens» mas também a terrível desvantagem de viver com um espartilho inibi<strong>do</strong>r <strong>da</strong> realização<br />

pessoal‖.<br />

64 Manuela Fleming, Família e Toxicodependência, op. cit., p. 45.<br />

65 Manuela Fleming Família e Toxicodependência, op. cit., pág. 54.<br />

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