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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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impregna<strong>da</strong>s pelo preconceito etnocentrista, leituras essas que conduzem à profun<strong>da</strong><br />

desvalorização <strong>do</strong>s jovens cuja origem social os confinou a um universo subcultural<br />

simbolicamente inferioriza<strong>do</strong>. As definições <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> professor e <strong>do</strong> aluno, em<br />

termos estritamente funcionalistas ou burocráticos, que o mesmo é dizer, desprezan<strong>do</strong><br />

a pessoa, na complexi<strong>da</strong>de de factores que constroem a sua história, determinam um<br />

mo<strong>do</strong> de relacionamento <strong>do</strong> professor com os alunos pauta<strong>do</strong> pela<br />

incomunicabili<strong>da</strong>de, distância, opressão. As relações são <strong>do</strong>mina<strong>da</strong>s por<br />

representações que, ao aprisionarem a pessoa numa imagem desfavorável, não lhe<br />

permitem evoluir, descolar-se <strong>do</strong>s símbolos significantes anteriormente interioriza<strong>do</strong>s e<br />

abrir-se a novos significa<strong>do</strong>s. Desistem <strong>da</strong>quilo que, na reali<strong>da</strong>de, lhes é nega<strong>do</strong>, mas<br />

vivem essa situação como se a desistência fosse escolha sua. Não perceben<strong>do</strong> que<br />

os interesses se educam, vivem o seu desinteresse como se ele fosse resulta<strong>do</strong> de<br />

uma falha, de alguma incapaci<strong>da</strong>de inata cuja posse não depende <strong>da</strong> vontade, ou de<br />

uma falha de carácter, quan<strong>do</strong>, de facto, é a escola que lhes nega a possibili<strong>da</strong>de de<br />

descobrir o interesse pelo estu<strong>do</strong>.<br />

188<br />

Perdi<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio sobre as aprendizagens, sem que ninguém cuide de<br />

orientar a recuperação, a vivência <strong>da</strong> sala de aula é uma sucessão infindável de<br />

momentos vazios, inúteis, para além <strong>da</strong> constante actualização de sentimentos de<br />

frustração. Se atentarmos que a imposição legal <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de obrigatória dá lugar<br />

ao accionamento de sanções para os que não cumprem essa obrigatorie<strong>da</strong>de, não fica<br />

muito difícil perceber que esse tempo imposto na escola seja preenchi<strong>do</strong> com<br />

múltiplas activi<strong>da</strong>des transgressoras, desde o mau comportamento na sala de aula, à<br />

desautorização <strong>do</strong> professor, à violência na relação entre pares, ao van<strong>da</strong>lismo contra<br />

o edifica<strong>do</strong>, o roubo, o tráfico e o consumo de drogas.<br />

Rafael (17 anos)<br />

Nasceu em 30 de Junho de 1991, em Tomar, fruto de uma relação<br />

ocasional. Nunca conheceu o seu pai, nem sequer sabe o seu nome. No seu bilhete<br />

de identi<strong>da</strong>de não há nome <strong>do</strong> pai. A mãe dedicava-se à prostituição em bares de<br />

alterne e nunca teve condições para dedicar ao Rafael os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s que um recém-<br />

nasci<strong>do</strong> requer. Foi, logo após o seu nascimento, entregue aos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s de uma ama<br />

e, ao longo <strong>do</strong>s primeiros anos de vi<strong>da</strong> teve que mu<strong>da</strong>r várias vezes de ama e de local<br />

de residência sempre que a activi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe a obrigava a mu<strong>da</strong>r de ci<strong>da</strong>de.<br />

Começou por morar em Tomar, depois passou para Leiria, seguiu-se Lisboa, Viseu,

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