17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

desenvolver as capaci<strong>da</strong>des e estruturas cognitivas <strong>da</strong> sua i<strong>da</strong>de. Se o seu mun<strong>do</strong><br />

fora <strong>da</strong> Clínica permanece o mesmo, será possível desencadear a motivação para<br />

mu<strong>da</strong>r? E se isso acontecer, será possível conservar e actualizar as aprendizagens<br />

realiza<strong>da</strong>s no contexto terapêutico?<br />

293<br />

Porque nunca conheceram adultos capazes de representar a deseja<strong>da</strong><br />

figura de segurança, em que se pudessem apoiar em caso de dúvi<strong>da</strong>, porque nunca<br />

desfrutaram <strong>da</strong> dependência na fase inicial <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, esses jovens evidenciam um<br />

temor <strong>da</strong> aproximação/separação, transportam a desconfiança básica original para as<br />

relações posteriores, ficam prisioneiros <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de depender, ao mesmo<br />

tempo que temem essa dependência. Mesmo necessitan<strong>do</strong> de aju<strong>da</strong>, tendem a não a<br />

solicitar, silenciam-se e procuram encontrar em si próprios estratégias de resolução<br />

<strong>da</strong>s suas necessi<strong>da</strong>des, não fosse esta aju<strong>da</strong> acor<strong>da</strong>r em si a vontade de esperar de<br />

alguém o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> incondicional recalca<strong>do</strong> ou secretamente deseja<strong>do</strong>. Deixa<strong>do</strong>s<br />

sozinhos nas suas aprendizagens, foram impedi<strong>do</strong>s de desenvolver a sua capaci<strong>da</strong>de<br />

de concentração e tolerância à frustração, ao mesmo tempo que se agravavam as<br />

dificul<strong>da</strong>des de pensar, de aprender e de reter as coisas.<br />

Voltan<strong>do</strong> às perguntas, é pertinente que nos interroguemos, então, acerca<br />

<strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de gerar a actualização dessas capaci<strong>da</strong>des se não forem<br />

proporciona<strong>da</strong>s sociabili<strong>da</strong>des que recriem afabili<strong>da</strong>des, harmonias e afectos<br />

afinca<strong>da</strong>mente aposta<strong>do</strong>s numa ver<strong>da</strong>deira apropriação <strong>do</strong> saber-estar, saber-ser e<br />

saber - fazer conducentes à integração social 297 .<br />

Se dentro <strong>da</strong> clínica é possível recriar um ambiente, em alguma medi<strong>da</strong>,<br />

propício à reelaboração <strong>da</strong> dialéctica entre produtivi<strong>da</strong>de e inferiori<strong>da</strong>de, será isso<br />

suficiente para retomar a vi<strong>da</strong> fora <strong>da</strong> instituição? De que relações pode dispor o<br />

a<strong>do</strong>lescente quan<strong>do</strong> volta ao mun<strong>do</strong> ―normal‖? A que contextos de interacção social<br />

pode aceder? Que condições de aprendizagem estão ao seu alcance? Que vínculos<br />

lhe será possível estabelecer? Que modelos relacionais farão parte <strong>do</strong> seu universo?<br />

Quem e como lhe é garanti<strong>do</strong> o acesso a contextos sociais efectivamente<br />

repara<strong>do</strong>res? Que condições assegurarão a ruptura com o mecanismo de identificação<br />

ao agressor? Que condições assegurarão a não submissão aos modelos relacionais<br />

297 Cfr. Carlota Teixeira, O Tecer e o Crescer – Fios e Desafios ,op.cit., pág. 126 São capuchinhos<br />

vermelhos, à descoberta de como li<strong>da</strong>r com os lobos maus. Mas, por vezes, na sua vi<strong>da</strong> só existiram<br />

lobos maus, o que as obrigou a aprender a viver com eles, vitimizan<strong>do</strong>-se, anulan<strong>do</strong>-se, identifican<strong>do</strong>-se<br />

com eles e reproduzin<strong>do</strong> depois as suas atitudes. Ou então encontraram lobos que alternavam entre os<br />

papéis de lobo mau e de lobo bom, sem que a criança percebesse porquê. Umas vezes prestam<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, outras aban<strong>do</strong>nam e maltratam. Como perceber onde está o lobo mau? Ou se ele existe?<br />

Como descodificar as situações que a colocam em risco? Como se perceber a si próprio como lobo mau,<br />

se aprendeu que ―ser mau é a melhor maneira de ser bom?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!