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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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<strong>da</strong>queles a quem ele é imposto pela simples razão de que os emprega<strong>do</strong>s não<br />

participaram na sua gestação‖ 29 .<br />

Um segun<strong>do</strong> défice social, menos evidente <strong>do</strong> que uma baixa leal<strong>da</strong>de, é<br />

aquele que afecta a confiança, formal e informal. Ora, assinala Sennett, no novo<br />

capitalismo é a confiança informal que sofre rudes golpes. Neste tipo de confiança, é<br />

sobretu<strong>do</strong> nas situações de pressão e de crise que podemos descobrir com quem<br />

contar, quem se afun<strong>da</strong>rá e quem se mostrará à altura <strong>da</strong>s circunstâncias. Numa<br />

equipa ou numa rede, os pequenos sinais referentes ao comportamento ou ao<br />

temperamento <strong>do</strong>s seus integrantes aparecem lentamente, à medi<strong>da</strong> que os<br />

acontecimentos se sucedem, ou seja, à medi<strong>da</strong> que a máscara que apresentamos aos<br />

outros se vai tornan<strong>do</strong> mais transparente. Nas burocracias orienta<strong>da</strong>s para o curto<br />

prazo, muitas vezes, não há tempo para adquirir esse conhecimento sobre os outros.<br />

Uma equipa com uma duração de vi<strong>da</strong> de seis meses revela muito menos sobre o<br />

comportamento provável <strong>do</strong>s seus membros quan<strong>do</strong> sujeitos a tensão <strong>do</strong> que uma<br />

rede cuja duração de vi<strong>da</strong> se pode medir em anos 30 . Por isso, a confiança informal<br />

leva tempo a desenvolver-se. Em suma, na medi<strong>da</strong> em que gira em torno <strong>do</strong> tempo<br />

organiza<strong>do</strong>, a escassez de confiança informal representa muito mais um défice<br />

organizacional <strong>do</strong> que um simples problema relativo ao carácter pessoal.<br />

Para os emprega<strong>do</strong>s de empresas tão voláteis, cuja organização<br />

privilegia os aspectos superficiais <strong>da</strong> cooperação e instala relações mais impessoais e<br />

opacas (<strong>do</strong> que as instituições cujos emprega<strong>do</strong>s fazem longas carreiras profissionais<br />

conjuntamente com os colegas), é impossível adquirir um bom conhecimento mútuo. O<br />

resulta<strong>do</strong> é a fácil volatili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s redes relacionais construí<strong>da</strong>s no e pelo trabalho.<br />

O terceiro défice social tem a ver com o enfraquecimento <strong>do</strong><br />

conhecimento institucional. Um vício <strong>da</strong> antiga pirâmide burocrática era a sua rigidez,<br />

a inamovibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seus postos, o conhecimento que o pessoal tinha <strong>da</strong>quilo que se<br />

esperava de ca<strong>da</strong> um. A pirâmide tinha, contu<strong>do</strong>, a sua virtude de ser compatível com<br />

a acumulação de conhecimentos sobre a maneira de fazer funcionar o sistema,<br />

inclusive a respeito <strong>da</strong>s situações em que era legítimo abrir excepções às regras ou<br />

chegar a acor<strong>do</strong>s por vias indirectas de comunicação. Muitas <strong>da</strong>s pessoas que<br />

29 Richard Sennett, A Cultura <strong>do</strong> Novo Capitalismo op. cit., p. 50.<br />

30 Richard Sennett, A Cultura <strong>do</strong> Novo Capitalismo op. cit., p. 52.<br />

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