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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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que fala Lahire 74 . Para isso, será importante perceber que se a vinculação constitui um<br />

processo singular de relacionamentos afectivo-emocionais que delimitam uma matriz<br />

decisiva para o indivíduo se compreender a si próprio e aos outros, não deixa de ser<br />

fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong>r conta de que os problemas <strong>da</strong> vinculação podem ocorrer em<br />

situações bem distintas. Excesso e privação ocasionam rupturas que condicionam a<br />

capaci<strong>da</strong>de de estabelecer ligações afectivas, tal como a ampliação <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des<br />

de abstracção <strong>da</strong> diferenciação entre si e o outro 75 . Mas o que diferencia as<br />

capaci<strong>da</strong>des de uns e de outros?<br />

Bowlby acreditava que a privação prolonga<strong>da</strong> <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> materno a uma<br />

criança pequena pode ter repercussões de grande alcance no seu carácter, assim<br />

como na sua vi<strong>da</strong> futura 76 . Sob o título Cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s Maternos e Saúde Mental, este autor<br />

publicou os resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisa 77 onde realçava o facto de as crianças que,<br />

desde ce<strong>do</strong>, haviam si<strong>do</strong> priva<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s suas mães, particularmente as que vieram a ser<br />

cria<strong>da</strong>s em instituições, apresentarem sofrimentos com efeitos no seu<br />

desenvolvimento emocional, intelectual, verbal, social e inclusive físico.<br />

De resto, Bowlby entendia mesmo que as experiências de separação<br />

precoce <strong>da</strong>s mães, ao impedirem a vivência de afecto continua<strong>do</strong>, de relações de<br />

intimi<strong>da</strong>de, eram responsáveis pela formação de perturbações de personali<strong>da</strong>de,<br />

poden<strong>do</strong> mesmo gerar deterioração cognitiva, angústia e depressão.<br />

Mas em que consiste a privação <strong>da</strong> mãe? Os jovens que dispõem de<br />

computa<strong>do</strong>r, play station, ligação à Internet, aparelhagem de som, que são<br />

transporta<strong>do</strong>s pelos pais à discoteca e que, à saí<strong>da</strong>, têm um táxi à sua espera para<br />

retornarem a casa, que vestem roupas <strong>da</strong>s marcas mais in, que praticam activi<strong>da</strong>des<br />

extra escolares, tais como música, desporto ou outras, que dispõem de explica<strong>do</strong>res,<br />

sempre que disso tenham necessi<strong>da</strong>de para elevar os resulta<strong>do</strong>s escolares, podem<br />

considerar-se priva<strong>do</strong>s <strong>da</strong> mãe?<br />

Se numa primeira fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, diz Bowlby, essa figura particular<br />

proporciona ao bebé cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s elementares que asseguram a sua sobrevivência, são<br />

os actos repeti<strong>do</strong>s <strong>da</strong> realização sistemática desse papel que irão possibilitar que essa<br />

figura se transforme numa figura de vinculação vivi<strong>da</strong> e senti<strong>da</strong>, ao longo <strong>do</strong> tempo,<br />

como alguém capaz de gerar sentimentos de segurança perante situações de me<strong>do</strong>,<br />

ameaça, ou desconforto.<br />

74<br />

Bernard Lahire, Portraits sociologiques – Dispositions et variations individuelles, Nathan, Paris, 2002.<br />

75<br />

F. Atger, ―Vinculação e A<strong>do</strong>lescência‖ in Vinculação: Conceitos e aplicações, Coordenação de Nicole<br />

Guedney e Antoine Guedney, Climepsi, 2004.<br />

76<br />

Bowlby cit. in Howe, David: Attachment theory for social work practice, Mcmillan Press Ltd., Lon<strong>do</strong>n,<br />

1995.<br />

77<br />

Bowlby, “Cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s Maternos e Saúde Mental‖, cfr. in D. Anzieu, J. Bowlby, at all: A Vinculação,<br />

Attachment, Socicultur, Lisboa, 1978.<br />

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