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que aquilo era apenas uma brincadeira inocente da parte dela, uma<br />

travessura backfisch imitando algum simulacro de falso romance, e já<br />

que (como o psicoterapeuta tanto quanto o estuprador podem lhe dizer)<br />

os limites e as regras dessas brincadeiras de menina são fluidos, ou pelo<br />

menos infantilmente sutis demais para que o parceiro mais velho<br />

consiga percebê-los — tive um medo terrível de que pudesse ir longe<br />

demais e fazê-la recuar de um salto, tomada pela repulsa e o terror. E,<br />

como acima de tudo eu sentia uma agonia ansiosa de transportá-la<br />

clandestinamente para o isolamento hermético dos Caçadores<br />

Encantados, e ainda nos faltavam uns cento e trinta quilômetros de<br />

estrada, uma bendita intuição interrompeu nosso abraço — uma fração<br />

de segundo antes que um carro da polícia rodoviária encostasse ao nosso<br />

lado.<br />

Rubicundo e com uma ampla testa inclinada, o motorista me<br />

encarou.<br />

“O senhor por acaso viu um sedã azul, da mesma marca que o seu,<br />

passar pelo seu carro antes do cruzamento?”<br />

“Não.”<br />

“Não vimos nada”, disse Lo, debruçando-se por cima de mim, sua<br />

mão inocente nas minhas pernas, “mas tem certeza mesmo de que era<br />

azul, porque —”.<br />

O policial (que sombra nossa ele estaria perseguindo?) deu seu<br />

melhor sorriso à bela mocinha, e fez meia-volta na estrada.<br />

Seguimos em frente.<br />

“Que cretino!”, observou Lo. “Devia ter multado você.”<br />

“Mas por que eu?”<br />

“Bem, a velocidade máxima nesse estado vagabundo é oitenta, e —<br />

Não, não diminua a velocidade, seu miolo mole. Agora ele foi embora.”<br />

“Ainda falta bastante”, disse eu, “e quero chegar lá antes que<br />

anoiteça. Então se comporte”.<br />

“Muito má, muito malcomportada”, disse Lo em tom confortável.<br />

“Deliquante juvenil, mas sincera e cativante. O sinal estava vermelho.<br />

Nunca vi ninguém dirigir como você.”<br />

Atravessamos em silêncio uma cidadezinha silenciosa.<br />

“E então, minha Mãe não iria ficar absolutamente furiosa se<br />

descobrisse que somos amantes?”<br />

“Santo Deus, Lo, não vamos falar desse jeito.”<br />

“Mas nós somos amantes, não somos?”<br />

“Não que eu saiba. Acho que vamos pegar mais chuva. Você não<br />

quer me contar alguma das suas travessuras na colônia de férias?”<br />

“Você fala feito um livro, papai.”<br />

“O que você andou fazendo? Faço questão que você me conte.”<br />

“Você se choca com facilidade?”

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