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Nos postos de inspeção das estradas interestaduais, na entrada do<br />

Arizona ou da Califórnia, uma espécie de policial nos examinava com<br />

tamanha intensidade que meu pobre coração ameaçava parar. “Algum<br />

mel?”, perguntava ele, e a cada vez minha doce boba-alegre prorrompia<br />

em risinhos. Ainda tenho, vibrando ao longo do meu nervo óptico, visões<br />

de Lo a cavalo, mais um elo no comboio de uma excursão guiada por<br />

uma antiga trilha de tropeiros: Lo balançando ao passo da montaria, com<br />

uma idosa amazona à sua frente e um libidinoso guia local logo atrás; e<br />

eu atrás dele, odiando suas costas gordas e sua camisa florida com fervor<br />

ainda maior que o de um motorista detestando o vagaroso caminhão à<br />

sua frente numa subida de serra. Ou então, numa estação de esqui, eu a<br />

seguia com os olhos enquanto ela flutuava para longe de mim, celestial<br />

e solitária, num teleférico etéreo, cada vez mais alto, rumo a um pico<br />

cintilante onde atletas sem camisa sorriam à espera dela, só dela.<br />

Em qualquer cidade que parássemos eu indagava, com meus<br />

civilizados modos europeus, acerca da localização dos natatórios, dos<br />

museus, das escolas locais, do número de estudantes matriculados na<br />

escola mais próxima e assim por diante; e no horário de passagem do<br />

ônibus escolar, sorridente e com um ligeiro espasmo no rosto (descobri<br />

esse tic nerveux porque a cruel Lo foi a primeira a imitá-lo), eu<br />

estacionava em algum ponto estratégico, com minha gazeteira a meu<br />

lado no carro, para ver as crianças saindo da escola — sempre um lindo<br />

panorama. Esse tipo de coisa em pouco tempo começava a entediar<br />

minha tão facilmente entediável Lolita, e, tomada por uma infantil falta<br />

de tolerância para com os caprichos alheios, ela emitia impropérios<br />

contra mim e o meu desejo de que me acariciasse enquanto pequenas<br />

morenas de olhos azuis e shorts da mesma cor, ruivas de bolero verde e<br />

vagas louras longilíneas de calças desbotadas passavam por nós ao sol.<br />

Como uma espécie de compensação, eu advogava amplamente, em<br />

todo lugar e a todo momento possível, o livre uso das piscinas na<br />

companhia de outras garotas. Ela adorava as águas cintilantes e<br />

mergulhava notavelmente bem. Envolto num confortável roupão, eu me<br />

instalava em plena vasta sombra vespertina depois de minha própria<br />

comedida imersão, e ali ficava sentado, com o pretexto de um livro<br />

aberto ou de um saco de bombons, ou ambos, ou sem nada além de<br />

minhas glândulas fervilhantes, a observar seus saltos, protegida pela<br />

touca de borracha perolada, com um bronzeado sedoso, feliz como uma<br />

atriz, em sua justa parte de baixo de cetim e seu sutiã pregueado de<br />

lastex. Adorável adolescente! Como eu me envaidecia ao pensar<br />

maravilhado que ela era minha, minha, minha, rememorando os mais<br />

recentes embates matinais aos gemidos de pombas carpideiras,<br />

planejando os do final da tarde e, apertando meus olhos aguilhoados<br />

pelo sol, comparando Lolita às outras ninfetas eventuais que o acaso

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