14.05.2015 Views

o_19l9sf1klot912ii1tl61iufs6da.pdf

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Os dois porcos cor-de-rosa incluíam-se agora entre os meus melhores<br />

amigos. Com a letra lenta e nítida do crime escrevi: Dr. Edgar H.<br />

Humbert e filha, 342 Lawn Street, Ramsdale. Uma chave (342!) foi-me<br />

entremostrada (mágico mostrando um objeto que em seguida irá<br />

empalmar) — e entregue ao Pai Tomás. Lo, deixando o cachorro como<br />

um dia haveria de me deixar, levantou-se; um pingo de chuva caiu na<br />

sepultura de Charlotte; uma bela jovem negra abriu a porta de correr do<br />

elevador, e a criança condenada entrou acompanhada por seu pai<br />

pigarreante e o Tomás sulino com as malas.<br />

Paródia de um corredor de hotel. Paródia de silêncio e morte.<br />

“Veja só, o número da nossa casa”, disse a alegre Lo.<br />

O quarto continha uma cama de casal, um espelho, uma cama de<br />

casal no espelho, uma porta espelhada de armário, uma porta idem do<br />

banheiro, uma janela escura e azul, uma cama refletida nela, o mesmo<br />

no espelho do armário, duas cadeiras, uma mesa com tampo de vidro,<br />

duas mesas de cabeceira, uma cama de casal: uma cama grande de<br />

cabeceira alta, para ser exato, com uma colcha cor-de-rosa de chenile da<br />

Toscana, e dois abajures de borda rendada com cúpulas cor-de-rosa, à<br />

esquerda e à direita.<br />

Tive a tentação de pôr uma nota de cinco dólares naquela palma<br />

sépia, mas achei que a largueza poderia ser mal-interpretada, de<br />

maneira que lhe dei um quarto de dólar. E mais um. Ele se retirou. Clic.<br />

Enfin seuls.<br />

“Vamos dormir no mesmo quarto?”, perguntou Lo, os traços do seu<br />

rosto movendo-se da maneira dinâmica como costumavam mover-se —<br />

não contrariados, nem com repulsa (embora claramente à beira dela),<br />

mas só dinâmicos — quando ela queria atribuir a uma pergunta uma<br />

carga de violenta importância.<br />

“Já pedi a eles que trouxessem uma cama de armar. Onde eu posso<br />

dormir, se você quiser.”<br />

“Você é louco”, disse Lo.<br />

“Por quê, meu amor?”<br />

“Porque, meu amoor, quando minha mãe que é um amoor descobrir,<br />

ela vai se divorciar de você e me estrangular.”<br />

Só dinâmica. Sem levar a questão realmente muito a sério.<br />

“Escute aqui”, disse eu, sentando-me enquanto ela permanecia de<br />

pé, a pouca distância de mim, e olhava satisfeita para si mesma,<br />

preenchendo com sua luz solar rosada o surpreso e satisfeito espelho da<br />

porta do armário.<br />

“Escute aqui, Lo. Vamos acertar essa conta de uma vez por todas.<br />

Para todos os efeitos práticos eu sou seu pai. Tenho um sentimento de<br />

grande ternura por você. Na ausência da sua mãe sou responsável pelo<br />

seu bem-estar. Não somos ricos, e enquanto viajamos seremos obrigados

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!