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fragmentos de carta no meu bolso. Tinham-se misturado demais para<br />
poderem ser separados em três conjuntos completos. Mas supus que “...e<br />
é melhor você achar logo porque não tenho como comprar...” vinha de<br />
uma carta para Lo; e outros fragmentos pareciam indicar que Charlotte<br />
tinha a intenção de fugir com Lo para Parkington, ou mesmo de volta a<br />
Pisky, para evitar que o abutre arrebatasse seu precioso cordeiro. Outros<br />
pedaços e tiras (nunca imaginei que tivesse garras tão poderosas)<br />
referiam-se obviamente a um pedido de matrícula não em St. A., mas em<br />
outro internato com fama de ser tão austero, cinzento e soturno em seus<br />
métodos (embora oferecesse croquê à sombra dos olmos) que fora<br />
apelidado de “Reformatório para Moças”. Finalmente, a terceira epístola<br />
era evidentemente endereçada a mim. Distingui passagens como<br />
“...depois de um ano de separação poderemos...” “...oh, meu querido, oh<br />
meu...” “...pior que se você sustentasse outra mulher...” “...ou, talvez, eu<br />
morra...” Mas no geral minhas tentativas não conseguiram produzir<br />
muito sentido; os fragmentos dessas três missivas apressadas<br />
embaralhavam-se tanto nas palmas das minhas mãos quanto seus<br />
elementos se confundiam antes na cabeça da pobre Charlotte.<br />
Naquele dia John precisava visitar um cliente e Jean, alimentar os<br />
seus cães, e assim fiquei temporariamente privado da companhia dos<br />
meus amigos. Essas pessoas tão dedicadas temiam que eu pudesse<br />
suicidar-me se deixado a sós, e como não havia outros amigos à<br />
disposição (a Srta. Defronte estava incomunicável, a família McCoo<br />
estava ocupada com a construção de uma casa nova a quilômetros dali,<br />
e os Chatfield tinham sido recentemente convocados ao Maine por<br />
alguma questão familiar lá deles), recomendou-se a Leslie e Louise que<br />
me fizessem companhia a pretexto de me ajudar a separar e empacotar<br />
inúmeros pertences condenados à orfandade. Num momento de soberba<br />
inspiração, mostrei aos delicados e crédulos Farlow (esperávamos Leslie<br />
chegar para seu compromisso pago com Louise) uma pequena foto de<br />
Charlotte que eu encontrara entre os seus guardados. Do alto de uma<br />
pedra ela sorria através de cabelos desfeitos pelo vento. Fora tirada em<br />
abril de 1934, uma primavera memorável. Numa viagem de negócios aos<br />
Estados Unidos, eu tivera a oportunidade de passar vários meses em<br />
Pisky. Nós nos conhecemos — e tivemos um caso de amor louco. Eu era<br />
casado, ai de mim, e ela estava noiva de Haze, mas depois da minha<br />
volta para a Europa nos correspondemos através de um amigo, que havia<br />
morrido. Jean sussurrou que tinha ouvido algumas histórias vagas e<br />
olhou para o instantâneo, e, ainda olhando, passou-o para John; John<br />
tirou o cachimbo da boca e olhou para a adorável e atirada Charlotte<br />
Becker, devolvendo a foto para mim. Em seguida, saíram por algumas<br />
horas. A feliz Louise gorgolejava e repreendia seu pretendente no porão.<br />
Mal o casal Farlow partiu, chegou um religioso de queixo azulado — e