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o senhor tem um gosto pelo bizarro, mas se tiver, posso lhe oferecer<br />
também, igualmente grátis, como mascote doméstica, uma pequena<br />
aberração muito excitante, uma jovem menina com três seios, um deles<br />
portentoso, uma rara e deliciosa maravilha da natureza. Ora, soyons<br />
raisonnables. O senhor só conseguirá ferir-me da maneira mais pavorosa,<br />
e depois irá apodrecer na cadeia enquanto me recupero em algum<br />
cenário tropical. Eu lhe garanto, Brewster, aqui você será feliz, com a<br />
adega magnífica e a íntegra dos direitos autorais da minha próxima peça<br />
— agora não tenho muito no banco, mas sempre posso contrair um<br />
empréstimo —, sabe, como dizia o Bardo, com aquele nariz<br />
congestionado, emprestar, emprestar, emprestar. Mas existem outras<br />
vantagens. Temos uma faxineira muito confiável e extremamente<br />
subornável, a sra. Vibrissa — nome curioso —, que vem do povoado duas<br />
vezes por semana, infelizmente hoje não, e ela tem filhas, netas, e uma<br />
ou duas coisinhas que sei sobre o chefe de polícia transformaram-no em<br />
meu escravo. Sou dramaturgo. Já fui chamado de o Maeterlinck<br />
americano. Maeterlinck que se dane, é o que eu lhe digo. Ora,<br />
francamente! Tudo isso é muito humilhante, e não sei bem se estou<br />
fazendo a coisa certa. Nunca misture herculanita com rum. Agora solte<br />
essa pistola, como um bom sujeito. Conheci superficialmente sua<br />
querida esposa. O senhor pode usar o meu guarda-roupa. Ah, mais uma<br />
coisa — o senhor vai gostar disso. Tenho uma coleção absolutamente<br />
única de obras eróticas. Só para mencionar um dos itens: a edição de<br />
luxo in-fólio de Bagration Island, da exploradora e psicanalista Melanie<br />
Weiss, uma senhora notável, uma obra notável — solte esta arma — com<br />
as fotografias de oitocentos e tantos órgãos masculinos que ela<br />
examinou e mediu em 1932 em Bagration, no Mar de Barda, imagens<br />
muito esclarecedoras, captadas com amor sob céus agradáveis — solte<br />
esta arma —, e além disso posso conseguir para você entrada para<br />
assistir a execuções, nem todo mundo sabe que a cadeira elétrica é<br />
amarela —”<br />
Feu. E dessa vez acertei em alguma coisa dura. Alvejei o encosto de<br />
uma cadeira de balanço preta, não muito diferente da de Dolly Schiller —<br />
minha bala atingiu a parte de dentro de seu encosto, o que a fez<br />
começar a balançar na mesma hora, tão depressa e com tamanha<br />
energia que qualquer recém-chegado àquela sala ficaria embasbacado<br />
com o duplo prodígio: a cadeira balançando em pânico por conta<br />
própria, e a poltrona onde meu alvo roxo antes se encontrava agora vazia<br />
de ocupante humano. Remexendo os dedos no ar, com um rápido tranco<br />
da anca, saiu correndo a toda na direção da sala de música e, no<br />
segundo seguinte, forcejávamos e arquejávamos dos dois lados da porta<br />
cuja chave eu deixara de recolher. Venci mais uma vez, e com um novo<br />
movimento abrupto Clare, o Imprevisível, sentou-se diante do piano e