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nada fizera contra a dona da casa.<br />

“Eu sempre quis lhe perguntar”, disse ela (em tom neutro, nada<br />

coquete), “por que essa coisa vive trancada? Quer mesmo que a mesinha<br />

fique no escritório? É tão abominavelmente rústica”.<br />

“Deixe a mesinha em paz”, disse eu. Estava nos Campos da<br />

Escandinávia.<br />

“E a chave, existe?”<br />

“Escondida.”<br />

“Ora, Hum...”<br />

“Cartas de amor secretas.”<br />

Ela me lançou um desses olhares de corça ferida que me irritavam<br />

tanto, e em seguida, sem saber se eu falava sério, ou como prosseguir na<br />

conversa, lá ficou pela duração de várias páginas lentas (Câmera<br />

Indiscreta, Canadá, Cana-de-açúcar) olhando para o vidro da janela, mais<br />

do que através dele, enquanto tamborilava em sua superfície com as<br />

aguçadas unhas amêndoa e rosa.<br />

Finalmente (em Canoa ou Canterbury) ela se aproximou da minha<br />

cadeira e desabou, lanosamente, pesadamente, em seu braço,<br />

inundando-me com o perfume que minha primeira mulher também<br />

usava. “Sua Graça gostaria de passar o outono aqui ?”, perguntou ela,<br />

apontando com o dedo mínimo para uma paisagem outonal num<br />

conservador estado do leste. “Por quê?” (muito distinta e lentamente).<br />

Ela encolheu os ombros. (É provável que Harold tivesse o costume de<br />

tirar férias nessa época do ano. Temporada de caça. Reflexo<br />

condicionado da parte dela.)<br />

“Acho que sei onde isso fica”, disse ela, ainda apontando. “Há um<br />

hotel de que eu me lembro, os Caçadores Encantados, exótico, não<br />

acha? E a comida é um sonho. E ninguém incomoda ninguém.”

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