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uma visita” à velha Srta. Defronte; mas as mais aristocráticas das<br />

matronas que frequentava, ou aquelas que encontrava em festividades<br />

ao ar livre, ou com quem travava conversas ao telefone — damas<br />

requintadas como a sra. Glave, a sra. Sheridan, a sra. McCrystal, a sra.<br />

Knight e outras —, raramente pareciam procurar minha desdenhada<br />

Charlotte. De fato, o único casal com quem ela mantinha relações de<br />

genuína cordialidade, desprovidas de qualquer arrière-pensée ou cálculo<br />

de ordem prática, eram os Farlow, que chegaram de uma viagem de<br />

negócios ao Chile bem a tempo de comparecer ao nosso casamento,<br />

juntamente com os Chatfield, os McCoo e alguns outros (mas não a sra.<br />

Sucata ou a ainda mais orgulhosa sra. Talbot). John Farlow era um<br />

tranquilo negociante de meia-idade, tranquilamente atlético, de artigos<br />

esportivos, com um escritório em Parkington, a sessenta e cinco<br />

quilômetros dali; foi ele quem me conseguiu os cartuchos para a pistola<br />

Colt e me ensinou a usá-la, durante um passeio pela mata num<br />

domingo; ele também se autodefinia, sorrindo, como um advogado de<br />

meio expediente, e cuidava de alguns interesses de Charlotte. Jean, sua<br />

mulher mais nova do que ele (e sua prima em primeiro grau), era uma<br />

jovem de pernas compridas e óculos gatinho munida de dois boxers, dois<br />

seios pontudos e uma boca larga e vermelha. Ela pintava — retratos e<br />

paisagens — e lembro-me nitidamente de ter elogiado, entre um drinque<br />

e outro, o retrato que ela pintara de uma sobrinha, a pequena Rosaline<br />

Honeck, uma rosa cor de mel de uniforme de bandeirante, com boina<br />

verde de feltro, cinto de lona verde, cachos encantadores que lhe caíam<br />

pelos ombros — e John tirou o cachimbo para dizer que era uma pena<br />

que Dolly (minha Dolita) e Rosaline trocassem tantas críticas na escola,<br />

mas que esperava que elas fossem dar-se melhor depois que voltassem<br />

de suas respectivas colônias de férias. Conversamos sobre a escola.<br />

Tinha seus pontos fracos, mas também suas virtudes. “Claro que a<br />

maioria dos comerciantes locais é de italianos”, disse John, “mas por<br />

outro lado ainda não nos aconteceu de —”. “Eu queria”, disse Jean rindo,<br />

“que Dolly e Rosaline passassem o verão juntas”. De repente imaginei Lo<br />

voltando da colônia de férias — bronzeada, quente, sonolenta, drogada<br />

— e estive a ponto de chorar de paixão e impaciência.<br />

19<br />

Algumas palavras mais sobre a sra. Humbert enquanto é tempo (um<br />

acidente grave irá acontecer muito em breve). Eu sempre tivera<br />

consciência do seu temperamento possessivo, mas jamais julgara que<br />

ela fosse mostrar-se tão ensandecidamente enciumada de tudo que não<br />

fosse ela em minha vida. Demonstrava uma curiosidade insaciável por<br />

meu passado. Desejava que eu ressuscitasse todos os meus amores para<br />

permitir que me obrigasse a insultá-los, pisoteá-los e revogá-los<br />

apostática e completamente, destruindo assim o meu passado. Fez-me

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