14.05.2015 Views

o_19l9sf1klot912ii1tl61iufs6da.pdf

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

poucos envolveu — e, como suas roupas de baixo eram muito precárias,<br />

não parecia haver nada que impedisse meu poderoso polegar de<br />

alcançar o oco quente de seu ventre — do mesmo modo como se pode<br />

fazer cócegas e carícias numa criança desfeita em riso — só isso — e:<br />

“Ora, não é nada”, exclamou ela com uma súbita nota muito aguda na<br />

voz, e contorceu-se, e revirou o corpo, e jogou a cabeça para trás, e seus<br />

dentes pousaram em seu reluzente lábio inferior enquanto ela dava um<br />

meio giro para trás, e minha boca que tanto gemia, senhores do júri,<br />

quase alcançou seu pescoço exposto, enquanto eu esmagava com força<br />

contra sua nádega esquerda o último espasmo do êxtase mais<br />

prolongado que homem ou monstro jamais experimentou.<br />

Imediatamente depois (como se antes estivéssemos lutando mas<br />

agora eu afrouxasse a chave com que a imobilizava) ela rolou para fora<br />

do sofá e levantou-se de um salto — num pé só, a bem da verdade — a<br />

fim de atender o telefone formidavelmente barulhento que, até onde eu<br />

sabia, já podia vir tocando havia séculos. Lá estava ela de pé, piscando<br />

muito, o rosto em chamas, os cabelos tortos, os olhos passando por mim<br />

tão depressa quanto pela mobília, e enquanto escutava ou falava (com a<br />

mãe que a chamava para vir almoçar com ela na casa dos Chatfield —<br />

nem Lo nem Hum sabiam ainda o que a buliçosa Haze vinha<br />

planejando), dava pancadinhas na beira da mesa com o chinelo que<br />

segurava na mão. Deus seja louvado, ela não percebera nada!<br />

Com um lenço de seda multicolorida, em que os cintilantes olhos<br />

dela pousaram de passagem, enxuguei o suor da testa e, imerso numa<br />

euforia de alívio, rearrumei minhas roupagens reais. Ela continuava ao<br />

telefone, negociando com a mãe (queria que ela viesse buscá-la de<br />

carro, minha pequena Carmen), quando, cantando em voz cada vez mais<br />

alta, subi com ímpeto as escadas e fiz um dilúvio de água fumegante<br />

começar a trovejar para dentro da banheira.<br />

A essa altura, posso copiar aqui a letra integral dessa canção de<br />

sucesso — até onde me lembro dela, pelo menos —, mas não acho que<br />

jamais a tenha entendido direito. E aqui vai:<br />

Ó minha Carmen, pequena Carmen!<br />

Alguma coisa, pelas estrelas<br />

De carro até os mares e os bares da nossa vida —<br />

É tanto o charme das nossas brigas.<br />

E alarme na cidade onde ontem, alegremente,<br />

Nós dois saímos, e foi para sempre,<br />

A arma com que te matei, ó Carmen,<br />

A arma que ainda trago em minha mão.<br />

(Sacou de sua automática .32, acredito, e atravessou o olho da amásia<br />

com um balaço.)<br />

14

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!