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L’autre soir un air froid d’opéra m’alita:<br />

Son félé — bien fol est qui s’y fie!<br />

Il neige, le décor s’écroule, Lolita!<br />

Lolita, qu’ai-je fait de ta vie?<br />

Eu morro, eu morro, Lolita Haze,<br />

De ódio e de remorso eu agonizo.<br />

A mão de monstro eu ergo outra vez,<br />

E escuto o teu choro, nunca o riso.<br />

Seu guarda, seu guarda, lá vão os dois —<br />

Na chuva, ali, bem junto à luz, talvez!<br />

Eu vi as meias soquete brancas que ela pôs,<br />

O meu amor! Chama-se Dolores Haze.<br />

Seu guarda, seu guarda, foram por ali —<br />

Dolores Haze e o seu pretendente!<br />

Puxe sua arma para os dois seguir,<br />

E se proteja atrás deste batente.<br />

Procuro, procuro, Dolores Haze.<br />

Tem expressão ausente e desatenta.<br />

Seu peso, em quilos, é quarenta e três<br />

E sua altura só um e quarenta.<br />

Meu carro se arrasta, Dolores Haze,<br />

Últimas jardas, há que percorrê-las.<br />

E caio onde toda erva se desfez,<br />

E sobram só ferrugem e pó de estrelas.<br />

Psicanaliticamente, este poema é a obra-prima de um maníaco. As<br />

rimas secas, rígidas e sombrias correspondem com grande exatidão a<br />

certas paisagens e figuras terríveis sem perspectiva, e a detalhes<br />

ampliados de paisagens e figuras da maneira como são desenhadas por<br />

psicopatas nos testes concebidos por seus sagazes treinadores. Escrevi<br />

muitos outros poemas. Mergulhei na poesia de outros. Mas nem por um<br />

segundo descuidei do fardo da vingança.<br />

Eu seria um canalha se dissesse, e o leitor um idiota se acreditasse,<br />

que o choque da perda de Lolita me curara da pederose. Não havia meio<br />

de modificar minha natureza maldita, qualquer que fosse o desfecho do<br />

meu amor por ela. Em parques e praias, meu olho cansado e sorrateiro,<br />

contrariando a minha vontade, continuava a procurar o fulgor dos braços<br />

e pernas de alguma ninfeta, os sinais enviesados das colegas e damas de<br />

companhia de Lolita. Uma visão essencial em mim, porém, murchara:<br />

não mais me entregava agora às possibilidades de deleite com uma<br />

pequena donzela, específica ou sintética, em algum lugar afastado e<br />

distante; não mais minha fantasia fincava suas presas nas irmãs de<br />

Lolita, bem longe, nas grutas de ilhas evocadas. Estava tudo acabado,<br />

pelo menos por enquanto. Por outro lado, ai de mim, dois anos de<br />

indulgência monstruosa tinham-me aferrado a certos hábitos lascivos:<br />

senti medo de que o vácuo em que vivia pudesse levar-me a mergulhar<br />

na liberdade de um súbito enlouquecimento caso me visse confrontado

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