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uma troca de umas cinquenta raquetadas que Lo, inocentemente,<br />

ajudou-me a cultivar e sustentar — até uma rebatida sincopada na série<br />

que a fez reagir surpresa quando seu voleio alto foi parar fora da quadra,<br />

o que a fez derreter-se numa adorável alegria, meu bichinho dourado.<br />

A essa altura eu estava com sede, e caminhei até o bebedouro; lá o<br />

Ruivo me abordou e, com toda a humildade, propôs-me um jogo de<br />

duplas mistas. “Sou Bill Mead”, disse ele. “E ela é Fay Page, atriz. Minha<br />

noiva” — acrescentou (apontando com sua raquete ridiculamente<br />

preservada para uma bem-comportada Fay, que já conversava com<br />

Dolly). Quase respondi, “Sinto muito, mas —” (porque detesto expor<br />

minha potranca aos golpes canhestros de amadores baratos), quando<br />

uma exclamação extraordinariamente melodiosa desviou minha<br />

atenção: um mensageiro vinha descendo aos tropeços os degraus entre<br />

o hotel e a nossa quadra, fazendo-me sinais. Eu fora chamado, se fazia a<br />

gentileza, por um interurbano urgente — tão urgente, na verdade, que a<br />

ligação estava aberta à minha espera. Claro. Enverguei meu paletó (o<br />

bolso interno acusava o peso da pistola) e disse a Lo que estaria de volta<br />

dali a um minuto. Ela estava recolhendo uma bola — com a tradicional<br />

manobra europeia, envolvendo o pé e a raquete, uma das poucas coisas<br />

interessantes que eu lhe ensinara — e me sorriu; sorriu para mim!<br />

Uma calma terrível manteve meu coração à tona enquanto eu subia<br />

até o hotel seguindo o mensageiro. Era chegada a hora, como diz a<br />

expressão que resume num único momento especialmente repulsivo a<br />

revelação, a represália, a tortura, a morte e a eternidade. Eu a deixara<br />

em mãos medíocres, mas agora não fazia muita diferença. Estava<br />

disposto a resistir, claro. Ah, como estava. Melhor destruir tudo que<br />

desistir dela. Ah sim, que escalada.<br />

No balcão, um senhor de aparência digna e nariz romano, dono,<br />

posso sugerir, de um passado muito obscuro que certamente haveria de<br />

premiar uma investigação mais detida, entregou-me um bilhete escrito<br />

com sua própria mão. A ligação fora cortada, afinal. E o bilhete dizia:<br />

“Sr. Humbert. Ligação da diretora da Escola Birdsley [sic!].<br />

Residência de verão — Birdsley 2-8282. Favor ligar de volta<br />

imediatamente. Muito importante.”<br />

Enfiei-me dobrado numa cabine, tomei um pequeno comprimido e<br />

por cerca de vinte minutos engalfinhei-me com assombrações do espaço.<br />

Um quarteto de respostas aos poucos se tornou audível: soprano, aquele<br />

número não existia em Beardsley; contralto, a srta. Pratt encontrava-se<br />

em viagem para a Inglaterra; tenor, nenhuma pessoa da Escola<br />

Beardsley ligara para mim; barítono, nem poderiam ter telefonado, pois<br />

ninguém tinha como saber que, naquele dia, estaríamos em Champion,<br />

Colorado. Diante da minha pressão, o senhor romano deu-se o trabalho<br />

de verificar se o hotel recebera algum interurbano. Negativo. Mas não

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