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“absolutamente proibido”, e outra sob o título “permitido com<br />

relutância”. Absolutamente proibido era sair com rapazes, sozinha com<br />

um deles ou mesmo com mais um ou dois casais — uma vez que o passo<br />

seguinte só podia ser a orgia coletiva. Era-lhe permitido ir a um café com<br />

suas amigas e lá conversar ou trocar sorrisos com rapazes ocasionais,<br />

enquanto eu aguardava no carro a uma distância discreta; e eu lhe<br />

prometi que, caso o grupo dela fosse convidado por um grupo<br />

socialmente aceitável da Academia Butler para Rapazes para seu baile<br />

anual (sob vigilância cerrada, claro), eu poderia cogitar a possibilidade<br />

de permitir que a moça de catorze anos envergasse seu primeiro vestido<br />

“formal” (um tipo de traje que transforma adolescentes de braços finos<br />

em flamingos). Além disso, prometi-lhe ainda dar uma festa em nossa<br />

casa para a qual ela poderia convidar suas amiguinhas mais bonitas e os<br />

rapazes mais bem-educados que àquela altura tivesse conhecido no<br />

baile da Academia Butler. Mas deixei bem claro que enquanto durasse o<br />

meu regime ela nunca, jamais, teria minha permissão para ir com algum<br />

jovem fogoso ao cinema, ou namorar no carro, ou ir a alguma festa só de<br />

meninos e meninas na casa de colegas de escola, ou entregar-se a<br />

conversas telefônicas menina-menino fora do alcance dos meus ouvidos,<br />

mesmo que “só para falar das relações dele com uma amiga minha”.<br />

Lo ficou enfurecida com isso tudo — disse que eu era um bandido<br />

nojento e coisa ainda pior —, e é possível que eu acabasse perdendo a<br />

cabeça se não tivesse descoberto em seguida, para meu extremo alívio,<br />

que o que mais a enraivecia era eu privá-la não de uma certa satisfação<br />

específica, mas de algum direito geral. Eu insistia, vejam bem, no<br />

programa convencional, nos passatempos costumeiros, nas “coisas que<br />

todo mundo faz”, na rotina da juventude; pois não existe nada mais<br />

conservador que uma criança, especialmente uma menina, por mais<br />

bronzeada e sardenta que seja, a mais mitopoética ninfeta da bruma dos<br />

pomares do outono.<br />

Não me entendam mal. Não posso ter certeza absoluta de que no<br />

decorrer do inverno ela não fosse estabelecer, de maneira casual,<br />

entendimentos impróprios com rapazes desconhecidos; claro que, por<br />

mais que eu controlasse de perto suas horas vagas, sempre haveriam de<br />

ocorrer lapsos inexplicados de tempo com explicações extremamente<br />

elaboradas para explicá-los a posteriori; claro que meus ciúmes fincavam<br />

suas presas pontiagudas na fina filigrana das falsidades da ninfeta; mas<br />

no fim das contas eu sentia — e juro que esse sentimento era autêntico<br />

— não ter motivo para alarme mais sério. E não porque nunca tivesse<br />

descoberto alguma jovem garganta palpável que pudesse esmagar em<br />

meio aos rapazes sem voz que às vezes se revelavam ao fundo; mas<br />

porque considerava “irresistivelmente óbvio” (uma das expressões<br />

favoritas da minha tia Sybil) que todas as variedades de rapazes da

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