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lá estavam os Farlow, e desviou para oeste, ziguezagueando pelos<br />
cinturões do milho e do trigo (não está muito claro, eu sei, Clarence, mas<br />
não tomei notas e hoje só tenho ao meu alcance um guia de viagem<br />
atrozmente aleijado em três volumes, quase um símbolo do meu<br />
passado dilacerado e incompleto, para cotejar essas lembranças);<br />
atravessei e tornei a atravessar as Montanhas Rochosas, vaguei por<br />
desertos sulinos onde invernamos; cheguei ao Pacífico, tomei o rumo<br />
norte através da plumagem de um lilás claro de arbustos em flor ao<br />
longo de estradas que cortavam florestas; cheguei quase à fronteira<br />
canadense; e segui para o leste, atravessando terras boas e más, de volta<br />
para a agricultura em escala colossal, evitando, apesar dos protestos<br />
estridentes da pequena Lo, a cidade natal da pequena Lo, situada numa<br />
área produtora de milho, carvão e carne suína; e finalmente voltei a<br />
refugiar-me na Costa Leste, indo acabar na cidade universitária de<br />
Beardsley.<br />
2<br />
Agora, ao ler o que se segue, o leitor deve ter em mente não só o circuito<br />
geral que esbocei anteriormente, com seus muitos trajetos colaterais e<br />
suas armadilhas para turistas, seus círculos secundários e seus volúveis<br />
desvios, mas também o fato de que, longe de uma indolente partie de<br />
plaisir, nossa jornada foi um crescimento teleológico árduo e tortuoso,<br />
cuja única raison d’être (esses clichês franceses são sintomáticos) era<br />
manter o humor de minha companheira num estado aceitável entre<br />
beijo e beijo.<br />
Folheando meu surrado guia de viagem, consigo evocar vagamente<br />
aquele jardim de magnólias num estado sulista que me custou quatro<br />
dólares e que, segundo o anúncio do guia, era obrigatório visitar por três<br />
motivos: porque John Galsworthy (uma espécie de escritor totalmente<br />
surdo) o aclamara como o mais lindo jardim do mundo; porque o Guia<br />
Baedeker de 1900 o tinha assinalado com uma estrela; e finalmente,<br />
porque... Ó Leitor, meu Gentil Leitor, adivinhe!... porque as crianças (e<br />
minha Lolita não era afinal uma criança?) haviam de “percorrer com<br />
olhos sonhadores e reverentes essa antessala do Paraíso, absorvendo<br />
toda essa beleza que pode influenciar suas vidas”. “A minha não”,<br />
comentou Lo aborrecida, instalando-se num banco com todo o conteúdo<br />
de dois jornais de domingo no colo adorável.<br />
Percorremos e tornamos a percorrer toda a gama de restaurantes<br />
americanos de beira de estrada, desde o modesto Eat com sua cabeça de<br />
cervo (rastro escuro de lenta lágrima no canto interno do olho), cartõespostais<br />
“humorísticos” do tipo tardio “Kurort”, as comandas dos clientes<br />
empaladas, dropes, óculos escuros, imagens publicitárias de sundaes<br />
celestiais, metade de um bolo de chocolate sob uma redoma de vidro e<br />
várias moscas horrivelmente experientes ziguezagueando para seguir a