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verdor o avanço do nosso carro, uma estrada vermelha e orlada de<br />
samambaias à direita virava a cabeça antes de desviar-se oblíqua para<br />
dentro do bosque, e sugeri que poderíamos talvez —<br />
“Siga em frente”, exclamou minha Lo com voz aguda.<br />
“Está certo. Fique calma.” (Quieto, pobre monstro, quieto.)<br />
Olhei para ela. Graças a Deus a menina estava sorrindo.<br />
“Seu palerma”, disse ela, dirigindo-me um sorriso doce. “Criatura<br />
repelente. Eu era uma menina em flor, e olhe o que você fez comigo. Eu<br />
devia chamar a polícia e dizer a eles que você me violou. Ah, você é um<br />
velho muito, muito indecente.”<br />
Será que estava só brincando? Uma alarmante nota histérica soava<br />
em suas palavras tolas. Em seguida, produzindo um som sibilante com<br />
os lábios, começou a queixar-se de dores, disse que não conseguia<br />
sentar-se, que eu rasgara alguma coisa dentro dela. O suor escorria pelo<br />
meu pescoço, e quase atropelamos algum pequeno animal que<br />
atravessou a estrada com a cauda ereta, e novamente minha malhumorada<br />
companheira de viagem chamou-me de um nome feio.<br />
Quando paramos no posto de gasolina, ela desceu do carro sem dizer<br />
nada e passou muito tempo fora. Com gestos lentos e amorosos, um<br />
amigo idoso de nariz quebrado limpou meu para-brisa — em cada lugar<br />
limpam de um jeito, usando de um pano de camurça a uma escova com<br />
espuma de sabão, e esse sujeito usava uma esponja cor-de-rosa.<br />
Finalmente ela apareceu. “Escute”, começou com aquela voz neutra<br />
que me magoava tanto, “passe umas moedas. Quero ligar para a minha<br />
mãe nesse hospital. Qual é o telefone?”.<br />
“Entre”, disse eu. “Você não pode ligar para esse telefone.”<br />
“Por quê?”<br />
“Entre e feche a porta.”<br />
Ela entrou e bateu a porta. O velho empregado do posto sorriu para<br />
ela. Enveredei pela estrada.<br />
“Por que não posso ligar para a minha mãe se eu quiser?”<br />
“Porque”, respondi, “sua mãe morreu”.<br />
33<br />
Na alegre cidade de Lepingville, comprei para ela quatro álbuns de<br />
quadrinhos, uma caixa de bombons, uma caixa de absorventes, duas<br />
Coca-Colas, um estojo de manicure, um despertador de viagem com<br />
mostrador luminoso, um anel com um topázio de verdade, uma raquete<br />
de tênis, patins presos a botas brancas de cano alto, um par de<br />
binóculos, um rádio portátil, goma de mascar, uma capa de chuva<br />
transparente, óculos escuros, mais algumas roupas — blusas sem<br />
manga, shorts, variados vestidos de verão. No hotel ficamos em quartos<br />
separados, mas no meio da noite ela entrou soluçando no meu, e<br />
fizemos as pazes com muita suavidade. Entendam, ela não tinha